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Percorrendo o país em 1886 e 1887, para preparar a sua         impressão. Dá uma ideia deste ambiente a casa de
                        obra Die Baukunst der Renaissance in Portugal, o professor         habitação representada na figura 23 a qual é um
                        alemão Albrecht Haupt desenhou à pena dois trechos de Leiria,      invejável achado de solidez e elegância. As grossas
                        que aparecem reproduzidos por zincogravura nas primeiras           cantarias do cunhal e as duas janelas graciosamente
                        páginas do segundo volume, sob os números 22 e 23. Esta figura     lavradas, que se abrem na vasta largura das paredes,
                        n.º 23 mereceu, no texto, a seguinte referência:                   são tudo aquilo de que o artista carecia para criar
                                                                                           uma impressão forte e completa, a que não falta
                                   «Leiria, antiga residência do rei D. Dinis,             sequer o pitoresco resultante do contraste com a
                               estende-se, bela e donairosa, aos pés das majestosas        travessa que corre por baixo do arco.»
                               ruínas do castelo. Na cidade predominam pequenos
                                                                                                        21
                               palácios dos séculos XVI e XVII, de construção           João Pereira Dias , na comunicação que apresentou em
                               simples, mas cheia de nobreza. Uma digressão pelas   1944, conclui que “esta residência, que tão vivamente prendeu
                               ruas da pequena cidade deixa, com efeito, singular   a atenção de Haupt, era o paço manuelino dos Marqueses
                                                                                    de Vila-Real, em cujas salas perpassava, por uma tradição
                                                                                    bem ou mal fundada, o vulto do nosso glorioso poeta Fran-
                                                                                    cisco Rodrigues Lobo. O velho paço, que depois da trágica
                                                                                    conjuração contra D. João IV passara à posse dos Condes
                                                                                    de Valadares, foi sacrificado ao bárbaro conceito de
                                                                                    progresso que tantas devastações causou à riqueza
                                                                                    arquitetónica do nosso país durante a segunda metade do
                                                                                    século XIX. Com efeito, o velho paço manuelino foi demolido
                                                                                    em 1888, para dar lugar a dois prédios incaracterísticos.
                                                                                    Por fortuna, ficaram o desenho e as palavras saídas da pena
                                                                                    de Albrecht Haupt, que nos permitem reerguê-lo na nossa
                                                                                    imaginação”. Mas a passagem ficou mais larga.



                                                                                                                                           2
                                                                                    21  João Pereira Dias no “1.º Congresso das Atividades do Distrito de Leiria” ,
                                                                                    que ocorreu de 23 a 26 de setembro de 1943.


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