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REVISTA PLÁSTICA PAULISTA
CIRURGIA REPARADORA
No entanto, material bioló- gico humano ou animal pode- riam se tornar potencial porta- dores de microorganismos pato- gênicos, que poderiam resultar em doenças infecciosas. Para re- duzir este risco, estes materiais devem ser submetidos a desin- fecção rigorosa e protocolos de esterilização, uma vez que uma possível invasão prejudicaria a cicatrização de feridas.
Dentre os usos médico, odontológico e institucional antissépticos, a clorexidina foi destacada devido às suas ações bactericidas e bacteriostáticas, baixa toxicidade e substantivi- dade. Além disso, estudos mos- traram que as concentrações de clorexidina entre 0,5 e 2,0% não foram associados a disso- ciação de brilas de colágeno em enxertos de tendão. Esses dados corroboram com esse estudo atual quando a imersão da amostra em clorexidina a 2% não causou alterações no colá- geno na pele de tilápia analisa- da por meio das amostras cora- das por hematoxilina eosina.
No entanto, as alterações na composição do colágeno foram observadas em amostras de pele submetidas a banhos de 30 min de clorexidina e concentrações sequenciais de glicerol. Quando comparadas, amostras de pele submetidas ao banho de 30 min de clorexidina mostraram melhor preservação do colágeno Tipo I do que aquelas que passaram pelo processo completo de es- terilização com glicerol. Como essa avaliação particular é sem precedentes na literatura, não foi encontrado estudo relacionado. Essas mudanças foram notadas
nos primeiros passos da esterili- zação química, quando a estru- tura da pele permanece muito semelhante à pele in natura.
A literatura mostra que os enxertos glicerolizados for- mam uma barreira protetora anti-bacteriana, provavelmente devido à sua estreita adesão à ferida resultante da recupera- ção da microcirculação local, que permitiria aumento da oferta de fagócitos e de fatores bacteriostáticos séricos.
O glicerol desidrata a pele por meio de remoção intracelu- lar de uidos. Essa alteração, no entanto, não leva a mudanças na concentração iônica intrace- lular, assim mantendo sua inte- gridade estrutural. Esta preser- vação do método tem sido des- crita favoravelmente na literatu- ra, sendo que as características celulares são reconstituídas por reidratação com solução salina.
No estudo, a pele de ti- lápia submetida ao protoco- lo de glicerol foi reidratada e considerada histologicamente semelhante à pele de tilápia in natura. Houve uma discreta de- sorganização das bras do colá- geno mais profundo, mas sem desagregação. Alguns estudos na literatura também mostraram essa preservação da arquitetura celular para outros enxertos.
Apesar do glicerol agir como um agente de xação po- tente de tecido, bem como dimi- nuir microorganismos viáveis, é essencial combinar este agente com outras métodos de este- rilização, visando a eliminação completa de patógenos. Esterili- zação por irradiação é o método de escolha nesta situação, uma
vez que é e caz no extermínio de bactérias, fungos e vírus, de- vido a danos diretos ao DNA.
Estudos anteriores reco- mendaram ensaios para a es- colha do método de rádio este- rilização apropriado para a re- moção completa de patógenos, preservando a mecânica e pro- priedades do material indutivo. Estudos anteriores avaliando enxertos ósseos mostraram alterações microestruturais, biológicas e mecânicas com di- ferentes dosagens de radiação.
Da mesma forma, estudos com enxertos de tendão alogêni- co mostraram que materiais irra- diados em doses variando de 1,5 a 2,5 Mrads (15 a 25 kGy) têm menor elasticidade e resistência ao estresse quando comparado o controle não irradiado. Este estudo com a pele de tilápia mostrou que a deformação por tração e valores de carga para extensão de tração foram signi cativamente menores àquelas amostras que receberam a maior irradiação dosagens (30 e 50 kGy). Amostras de pele sub- metidas a 25 kGy não diferiu das amostras não irradiadas.
Em relação à deposição de colágeno, observou-se que foi maior nas amostras submetidas a 25 kGy do que nas amostras não irradiadas. No entanto, não houve diferença entre os coe - cientes de colágeno tipo I e tipo III em qualquer um dos grupos analisados. Dados referentes às alterações de tipi cação de co- lágeno antes da irradiação gama são imperceptíveis na literatura.
No entanto, estudos anterio- res em enxerto mostraram que, embora as doses de radiação acima de 25 kGy não alteram a
ligação cruzada de colágeno, isso pode dani car a quantidade de colágeno desnaturado. Além dis- so, numa análise microestrutural espectroscópica, observou-se que os enxertos de pele irradiados aci- ma de 30 kGy alterariam ligações de hidrogênio e grupos de amida de colágeno. Estas alterações po- deriam causar um aumento de bras prévio a desnaturação, à semelhança do que acontece no tecido ósseo quando a dosagem de radiação é de 33 kGy ou mais. Então, poderia ser que o aumento total de colágeno observado ao usar 30 kGy pode ser devido ao aumento anterior no volume de bra, em um processo antes de sua desnaturação.
Alguns autores relataram que a irradiação do tecido ósseo àdosagensde20e25kGyésu - ciente para eliminar S. epidermidis e B. pulimilis, conhecidos por se- rem resistentes à radiação gama. Também foi descrito que estas dosagens seriam seguras sem causar danos mecânicos neste material. Singh et al. (2016) e ISO 11137: 2006 (Baker et al. 2005) recomendam uma dose de 25 kGy para o futuro uso do material como enxerto. Neste estudo, esta dosagem não alterou a mecânica nem as propriedades histológicas da pele de tilápia.
CONCLUSÃO
Esterilização química, bem como a radio esterilização nas dosagens de 25 kGy e 30 kGy, são e cazes no preparo da pele de tilápia do Nilo para uso como cobertura, e esse método não altera as pro- priedades mecânicas nem histoló- gicas da pele da tilápia.
BIBLIOGRAFIA: Alves APNN (1, 2), Lima Júnior EM (3), Piccolo NS (4), de Miranda MJB (5), Lima Verde MEQ (1), Ferreira Júnior AEC (6), de Barros Silva PG (1), Feitosa VP (1), de Bandeira TJPG (7), Mathor MB (2), de Moraes MO (8).
1. Nursing, Dentistry and Pharmacy School of the Federal University of Ceara, 07, 17th Street, Maracanaú, Fortaleza, Ceará, 61925-430, Brazil; 2. Pharmaceutical Bioche- mistry of the Nuclear and Energy Research Institute of University of São Paulo (IPEN), São Paulo, Brazil; 3. Institute of Burning Support, Fortaleza, Ceará, Brazil; 4. First Aid Station for Burning of Goiânia, Goiânia, Goiás, Brazil; 5. Hospital São Marcos/Rede Dor, Recife, Pernambuco, Brazil; 6. Nursing, Dentistry and Pharmacy School of the Federal University of Ceara, 07, 17th Street, Maracanaú, Fortaleza, Ceará, 61925-430, Brazil. ernando-junior@hotmail.com; 7. Microbiologist of Postgraduate Program in Medical Microbiology - Federal University of Ceara, Fortaleza, Ceará, Brazil; 8. Drug Research and Development Center- NPDM/Fortaleza, Ceará, Brazil.
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