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SIDA (continuação)
Em 1982, o CDC tentou mapear a doença e perceber a sua forma de transmissão, resultando daí a
possibilidade de estabelecer pontos de contacto entre as transfusões de sangue e as vítimas, nomeada-
mente, os hemofílicos que se encontravam infetados. Seria então necessário identificar os dadores de
sangue infetados para que se eliminasse a possibilidade de outros hemofílicos ficarem contaminados.
Porém, surgiram dificuldades acrescidas, uma vez que, por um lado, os bancos de sangue queriam as-
segurar a confidencialidade dos dadores e, por outro, a análise às reservas de sangue seria uma tarefa
dispendiosa e pouco fundamentada, visto que a relação de causa efeito entre dador e paciente era con-
siderada mais como uma conjetura do que uma teoria científica, ou seja, sem a análise às amostras de
sangue era impossível provar a teoria e sem a teoria devidamente fundamentada não era permitido, aos
cientistas, o acesso às amostras de sangue.
Em 1984, é descoberto um retrovírus. Dois grupos de cientistas – um do Instituto Pasteur de Paris,
chefiado pelo Dr. Luc Montangnier e o outro nos Estados Unidos, chefiado pelo Dr. Robert Gallo – recla-
maram os créditos da descoberta.
Só em 1985, quando já 28 mil doentes tinham recebido sangue infetado, os bancos de sangue come-
çaram a testar o sangue doado. Foi então criado o primeiro teste serológico – teste sanguíneo para de-
teção de anticorpos anti-HIV – e começaram a ser realizados os primeiros ensaios clínicos de possíveis
tratamentos. Ainda em 1985, foi finalmente concedida a autorização para fechar as saunas homossexu-
ais em São Francisco.
Quando o presidente Reagan emitiu o seu primeiro discurso acerca da SIDA, já 25 mil americanos
tinham morrido, mortes que poderiam ter sido evitadas se os factos acima enunciados não tivessem si-
do entraves para o decorrer da investigação.
Devem também ser assinalados outros marcos relevantes. Assim, em 1987, foi lançado o primeiro
tratamento para a infeção, ZIDOVUDINE. Em 1988, a Organização Mundial de Saúde (OMS), declarou
o dia 1 de dezembro como o dia mundial da SIDA. Em 2010, vários estudos demonstraram a possibili-
dade de um tratamento farmacológico para prevenir a transmissão de HIV (que consiste numa combina-
ção de fármacos antirretrovirais, 2 comprimidos tomados diariamente), além do uso de preservativo,
aquando de relações sexuais.
Nestes últimos quarenta anos, a medicina e a investigação progrediram muito rapidamente. Consta-
tamos que, na situação pandémica atual (Covid-19), estão a ser encontradas soluções em prazos muito
curtos. Mas será que a rapidez com que o coronavírus foi detetado e a forma como os países estão a
mobilizar-se se deve apenas ao avanço da medicina? Ou será porque o SARS-CoV-2 afeta homens,
mulheres, homossexuais, heterossexuais, idosos, crianças, ricos e pobres? Será que a mobilização se-
ria a mesma se o vírus afetasse apenas grupos marginais ou minorias étnicas?
Não existe nenhuma ciência à margem de preconceitos sociais, de entraves políticos e económicos.
E é lamentável constatar que nestas situações em que o necessário seria que todos cooperassem e se
mobilizassem para o bem comum, haja sempre jogos de poder, interesses económicos, a sobreposição
das conveniências dos grupos dominantes que comprometem o papel da ciência ao serviço da vida hu-
mana em igualdade de direitos.
Estamos no século XXI e ainda temos um longo caminho a percorrer. Eu em particular e a minha ge-
ração em geral temos a obrigação de fazer o que está ao nosso alcance para minimizar preconceitos,
em prol do bem comum e do desenvolvimento da humanidade.
Informação complementar
A ONUSIDA estima que, em 2030, 95% dos doentes diagnosticados com SIDA estejam em trata-
mento com carga viral indetetável. Se o objetivo for atingido, será declarado o fim da epidemia da SIDA.
VER O VÍDEO:
https://www.youtube.com/watch?v=oDd6ZQiaknU&feature=emb_logo
LEONOR ANTUNES N.º 12 12.º CT2
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