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A radiação vive contigo!
Origem da Radioactividade
A radioactividade foi descoberta em 1896, pelo físico
francês Henri Becquerel, que verificou acidentalmente
que um sal duplo de urânio e potássio emitia radiação
invisível, capaz de escurecer uma placa fotográfica.
Esta propriedade de certos elementos consiste na
emissão de partículas e/ou energia por parte de um
núcleo instável de átomos, ao sofrerem um processo
de decaimento. Neste processo, são libertadas
partículas, que vão constituir a chamada radiação, e
que caracterizam um determinado elemento radioativo.
Podem encontrar-se na natureza (ar, na água e solo e
seres vivos) mais de 60 radionuclídeos. Estes podem ser agrupados em três categorias: primordiais
(existentes desde a criação da Terra), cosmogénicos (resultam de interações com os raios cósmicos) e
antropogénicos (originados pela ação humana).
O Homem sempre esteve, e continuará a estar, exposto à radioatividade natural, da qual o radão é um
dos exemplos mais importantes.
Os efeitos da radioatividade, nos organismos, estão dependentes, essencialmente, da natureza da radiação do
radionuclídeo, do seu tempo de vida, da quantidade assimilada e dos órgãos onde é acumulada. Nos organismos esses
efeitos manifestam-se ao nível somático e genético. Ao nível somático, a sua expressão máxima é a letalidade, que
aumenta à medida que se progride na escala sistemática, sendo também elevada nos primeiros estados de
desenvolvimento embrionário. A este nível são bastante frequentes doenças, como o cancro e a leucemia. A nível genético,
a radioatividade é responsável por um aumento de mutações cromossómicas, levando por vezes à inviabilidade dos
gâmetas e ao aparecimento de mutações genéticas nas gerações vindouras.
Radão: perigo que se esconde no granito
Principal fonte de radiação para o ser humano, o radão é um gás sem cor, cheiro ou sabor.
Presente em toda a superfície terrestre e presente nos materiais de construção de origem
granítica, não é tóxico, mas desintegra-se com facilidade e dá origem a elementos
radioativos prejudiciais. Quando inalados, chegam aos brônquios, irradiam para os tecidos
vizinhos e, no limite, causam tumores pulmonares. Estima-se que seja a segunda causa de
cancro do pulmão, depois do tabaco. Embora apresentando concentrações geralmente
baixas na atmosfera, ao infiltrar-se nas casas através de fendas nas fundações e paredes,
pode atingir, no interior, concentrações, preocupantes, de várias ordens de grandeza
superiores às que se observam no exterior. A Organização Mundial da Saúde afirma que
o radão é a primeira causa de cancro do pulmão para os não fumadores e a segunda
causa para os fumadores (http://www.who.int/). Em 1988, o radão foi classificado pela
IARC (International Agency for Research on Cancer) como um carcinógeno do Grupo 1, o
grupo dos principais carginogénicos para o homem (http://www.iarc.fr/).
A maioria dos portugueses não tem de se preocupar com o radão. Mas o mesmo não
acontece com os habitantes dos distritos de Braga, Vila Real, Porto, Guarda, Viseu e
Castelo Branco que devem manter-se atentos a este problema, pois vivem em zonas
graníticas. No distrito de Portalegre, a Serra de São Mamede também oferece riscos.
O maior estudo que se realizou até ao momento na Europa, abrangendo mais de 21.000 medições individuais e
dados de 13 países (Darby et al. 2005) estimaram que por cada 100Bq/m3 (unidade de medida da
radioatividade) de incremento de concentração média a que uma pessoa está exposta, a probabilidade de
contrair cancro do pulmão a longo prazo cresce 16% (intervalo de confiança de 95%). Este estudo aponta para
os países que entraram no estudo: 9% de todas as mortes de cancro do pulmão foram causadas pelo radão,
sendo o radão a causa de 2% de todas as mortes por cancro.
O INE aponta que em 2017 morreram 4240 portugueses vítimas de cancro do pulmão,
traqueia e brônquios. Se aplicarmos a percentagem de 9% do estudo europeu em cima
citado a Portugal, chegamos ao valor de 382 mortes por ano causadas pelo radão.
(http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/22075535)
Comparando com as mortes causadas pelo amianto, que tem sido de cerca de 40 mortes por ano, vemos que o
radão pode matar 9 vezes mais portugueses do que o amianto.