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A caricatura na escrita a partir de Os Maias: Filhos da sua alma
Decidimos escolher, do capítulo XV, uma passagem, aquando do flashback, em que Maria
Eduarda explica a sua infância a Carlos, que nos despertou especial curiosidade: “E [Maria Eduarda]
partira com ele [Mac Gren], sem precipitação, como sua esposa, levando todas as suas malas. A ma-
mã, de volta a Baden, correu a Fontainebleau, desvairada e trágica, amaldiçoando Mac Gren, amea-
çando-o com a prisão de Mazas, querendo esbofeteá-lo; [...] A mamã terminou por os apertar a am-
bos contra o coração, já rendida, perdoando tudo, chamando-lhes «filhos da sua alma».” (página 518).
Quisemos relacionar esta passagem com uma das polémicas do momento: a incompetência do
Ministro da Administração Interna no exercício do cargo e a sucessiva impunidade em que se revê.
O mote que serviu para esta ligação foi, não só relação entre a presença da impunidade, com
atitudes brandas, tanto nesta passagem d’Os Maias, como na vida política do país, mas essencial-
mente a expressão final da passagem: “filhos da sua alma”.
O REGIME E OS “FILHOS DA SUA ALMA”
Falhar é humano e faz parte da vida. Falhar constantemente e nunca assumir encargos não é
para qualquer um. Já é mais habitual ouvir-se e ler-se por toda a parte expressões como “Eduardo
Cabrita” e “falhanço” ou “Ministro da Administração Interna” e “polémica” mais juntas do que seria de
esperar. A verdade é que, atualmente, não há escândalo no governo que não envolva o Sr. Ministro
Eduardo Cabrita. O que já é mais raro de se ouvir, ou até impossível, são as mesmas expressões,
mas com uma “demissão” ou uma “punição” a acompanhar. Este carrocel de falhanços teve início lo-
go no começo do mandato, com o caso das famosas “golas anti fumo”, distribuídas pela população
mais vulnerável a incêndios florestais, no verão de 2019, extremamente seguras e inovadoras, mas
que, afinal, sabe-se lá como, eram inflamáveis. Para além da especial atenção que o Ministério e o
seu cabecilha deram a estes equipamentos, a que deram ao funcionamento da rede SIRESP foi ainda
mais notável. Desta vez, a atitude do Sr. Eduardo Cabrita e do Ministério que dirige, que colocou em
causa a vida de inúmeros portugueses, passou pelos pingos da chuva – natural. Mas como se não
bastasse, o exímio trabalho que o Sr. Ministro tem vindo a desenvolver foi objeto de mais um bombar-
deamento de notícias: desta vez, mais recentemente, viemos a saber da morte de uma pessoa às
mãos do SEF, sob alçada do MAI. Coisa pouca, ao que parece, tendo em conta as gravíssimas con-
sequências a que foi sujeito Eduardo Cabrita. Mas este inimputável círculo de erros, falhas e lapsos
não parece ter fim à vista. A prova disso mesmo é o ainda mais recente caso acerca das ótimas con-
dições de vida em que se encontravam alguns trabalhadores agrícolas em Odemira e a forma como
foram “resolvidas”: o Sr. Ministro mostrou-nos que a impressão que tínhamos do seu trabalho, que
parecia não poder melhorar, afinal passou a ser ainda mais agradável. E mais agradável ainda é a
impressão que temos da forma como, apesar de todos estes escândalos, o sujeito se continua a ca-
britar pelos corredores do poder, levando-nos a questionar o que será feito do regime e dos que, por
mais que se esforcem para ser e parecer os piores, não deixam de ser os grandes “filhos da sua al-
ma”.
11.º LH2
Inês Santos – N.º 8
Maria Inês Pedaço – N.º 13
Tomás Trindade – N.º 27
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