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mãos o DVD “40 anos de voz, raízes e as injustiças sociais, a vida nas periferias,
vertentes”. Nesse trabalho vejo Juci a alegria e a resistência de quem tinha
Ibanez apresentando o mostrado, o pouco dinheiro e pouca sorte. Juci Ibanez
escondido, o dolorido, o som da com- quando canta traz o liame entre a história
posição sem juízo. Ali está o romance, o e emoção da presença feminina; pois
lance, o lançado, o apostado, descartado, o samba apesar de tão puro, por muito
o desacreditado, rompendo-se em toda tempo foi marginalizado. Por exemplo a
sua extensão vocal Emoldurado em Tia Ciata, era a responsável por permitir
repertório com composições próprias e que o samba fosse tocado sem a presença
também gravações de Celito e Geraldo da repressão policial, porque segundo
Espíndola, Guilherme Rondon, Paulinho relatos, isso só era possível por causa de
Simões, Bibi Carvalho e João Figar. Por seus conhecimentos em ervas medicinais,
derradeiro, apesar de Juci passear por que ela ajudou a curar a doença do pre-
tofos os ritmos eu sempre terei um olhar sidente da República, na época. Como
de sabista. Quando se ouve Juci Ibanez agradecimento, ela teria conseguido
cantar é como se tivesse revivendo o a “licença” para seguir com o batuque
canto de Tia Amélia (Amélia Silvana de em seu quintal. E é essa história de idas
Araújo - mãe de Donga), Tia Veridiana e vindas. É essa força e resiliência que
(mãe de Chico da Baiana), Tia Sadata, Tia precisamos para encontrarmos o real
Mônica (mãe de Pendengo e Carmem caminho do entendimento neste país.
Xibuca) e Tia Prisciliana (mãe de João da Vida longa a Juci Ibanez!
Baiana). O samba sempre falou e cantou *Articulista
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