Page 119 - O Antigo Grimório de São Cipriano - Fernando R. Lopes
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Neste caso, devem estar prevenidos, levando todos os dias o como com água de aipo, e
            roquete macho, o que evitará que sintam o mais leve incômodo.




                                         Feitiço da pele de cobra grávida


                 Voltando São Cipriano de uma festa de Natal, e não podendo atravessar os campos
            em conseqüência de haver uma grande cheia no rio por onde tinha de passar, teve de

            se abrigar em um túnel, formado pela natureza, para ali passar noite. Embrulhou-se no
            seu grosseiro manto e foi encostar-se no recesso mais seguro daquela furna. Próximo
            da meia-noite ouviu passos e divisou uma luz. Temendo que fossem malfeitores,

            encolheu-se atrás da ponta de uma grossa pedra. Pouco depois, soou naquele covão
            uma voz que dizia:

                   “Ó mágico Baal-Saharon, rei dos feiticeiros, por ti, eu Lagarrona aqui venho

            com quatro fogachos e peço-te que me ajudes a ganhar o prêmio à minha
            apaixonada cliente.”


                 O santo ia levantar-se, para interrogar quem assim falava, mas teve de recuar a
            estas palavras:


                  “Lucifer, princeps potens quo regno est ignis, pro vobis est inflammatus, veniat
            ad me. Ego veni intrarit hoc spelonca noctibus subsidio ad consolandum infelicem
            uxores officium.”

                 Depois disso, sentiu-se no subterrâneo um fumo aborrecido. Cipriano foi em
            direção da voz e se deparou com uma velha com o cabelo raspado na nuca. — Que
            fazes aí mulher? Sou feiticeira e quem é você e porque me interrompes? Sou Cipriano
            e também sou feiticeiro. Mas que fazes aqui? “Quero pedir uma auxílio ao demônio,

            para me ajudar em uma empresa da qual depende a minha fortuna no mundo e a
            tranqüilidade de uma senhora muito rica. — Quem é essa mulher? — perguntou
            Cipriano. — É a filha do conde Everardo de Saboril, casada com o grão-duque de

            Ferreire, à qual trata muito mal por causa de uma dama da corte, a quem adora com
            paixão. A filha do conde prometeu-me uma raza de ouro, se eu lhe desprendesse o
            marido dos braços da amante. — Que combustível é esse que sufoca e tem um cheiro

            tão aborrecido? — perguntou o santo. — É pele de cobra com flor de suage e raiz de
            urze que estou queimando em nome de Satanás, para defumar as roupas do duque, e
            ver se o desligo daquela mulher. Esta magia foi sempre infalível quando a minha mãe

            a praticava debaixo desta abóbada, e que as mãos dos homens não tornaram parte.
            Minha mãe desligou com elas mancebos de nobres e monarcas, mas eu já seis vezes a
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