Page 17 - ARCANO XIII
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anacrônicos
foi como se a garganta recusasse o ar
áspero que lhe arranhava a carne por
dentro. não era um sufocamento pela
falta, mas pela dureza do que havia para
respirar. tampouco foi um despertar
suave aquele – como se pode prever –, foi
ríspido e rude, mas sobretudo atordoante.
um tipo de confusão mental semelhante
à amnésia o acometeu ao perceber a si
mesmo em lugar desconhecido – como
haveria de lá ter ido? não lhe ocorria menor
ideia. supôs estar sedado ainda ou talvez
dormindo. um pesadelo, quem sabe? mas
doeu no osso o couro trançado – ou o que
quer que fosse com que aquilo lhe batia.
violência súbita inesperada lançou sua
mente ainda mais fundo no abismo em
que se encontrava – melhor dizendo, se
perdia – e não estava menos perdido
quando os olhos foram se acostumando
com o breu e da densa névoa outros
tantos surgiram, igualmente sem norte.
de si próprio nada sabia ou lembrava, que
não tivesse ares de noite passada. se
houvesse um meio de contar o tempo nesta
paisagem de luz inalterada tampouco o
número de dias seria contado, o tempo
não passava, permanecia. vivia um sonho
ruim trancado no meio, não avançava
nem retrocedia, um ponto fora da curva
do tempo suspenso no áspero ar que
não servia para respirar, no entanto fedia.