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Ele era, Victor sabia muito bem, uma personalidade perigosamente instável,
cujo colapso, afinal, não constituía nenhuma surpresa. Saber que Cesar estava
mergulhado num coma tão profundo fez Victor pensar num paradoxo curioso
como é da natureza dos paradoxos.
De certa forma se consolava ao pensar que o coma de Cesar o deixava a salvo
do seu principal tormento, as multidões com seu alarde, a massa humana que
insistia em persegui-lo sem trégua.
E começou a se perguntar por quais trilhas misteriosas andaria Cesar Astu
Ninan naquele momento. Afastado da consciência ordinária e previsível das
mentes em vigília e abandonado ao mistério de mundos desconhecidos no mais
íntimo de si mesmo.
No coma que o mantinha a salvo das multidões que tanto o aterrorizavam e
que haviam sido atraídas e permaneciam invadindo cada canto ao redor e
pelos corredores do hospital, precisamente pelo seu estado de coma.
Pensava nisso quando desligou o telefone depois de se certificar de haver
tranquilizado razoavelmente Isabeau informando-a sobre algumas
providências que tomaria imediatamente para ajudá-la.
Voltou para a biblioteca e para a companhia de seus amigos havanófilos e com
seu ar mais taciturno enfrentou a interrogação nos seus olhares.
Soube da determinação de Jacques em partir para se encontrar com Isabeau
e após refletir sobre a eficácia de tal atitude decidiu que não o acompanharia,
mas que esperaria ali, naquela velha casa em Terra Alta.
Jacques seria perfeitamente capaz de ajudá-la e tomar qualquer atitude e
decisão necessária e ele, Victor, estava convicto que permanecendo em Terra
Alta poderia atuar com mais eficiência para trazê-los para casa.
Ouviu a opinião do psiquiatra, doutor Júlios Longarcco, que conheceu Cesar
Ninan alguns anos atrás, ali mesmo, no casarão Gatopardo e que já naquela