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Capítulo 1 ...e eram asas enormes!
A chegada da morte assombrou Cesar Astu Ninan com o fantasma de si
mesmo em um passado muito distante, quando ele soube que ficaria louco.
Era o outono dos seus cem anos e Cesar se convencera de que a morte o havia
esquecido. Resumia seus dias aos passeios em clima ameno e perfumado pelas
flores da mimosa, sob o sol filtrado pelas folhas das árvores se revestindo de
ferrugem e ocre.
Mas, finalmente a morte chegou e Cesar reviveu, com requintes de detalhes, o
momento há trinta anos quando um inesperado farfalhar de asas agitadas
num voo misterioso provocou seu poder clarividente e ele soube que a descida
da enorme escadaria de pedra que se lhe impunha logo à frente, passo a passo,
degrau a degrau, marcaria o perder-se da sua consciência e da sua alma para
a loucura em um ritmo idêntico ao do seu corpo na descida. Até que ao descer
o último degrau ele estaria completa e irremediavelmente louco.
As lembranças o envolveram como a mortalha do seu fantasma triste.
Era o meio da tarde e Cesar fora levado, como todos os dias, até o alto da
colina, atado à sua cadeira de rodas para ser deixado num local de descanso
de onde a vista do mar era especialmente bela. Dormitava sonhos desfeitos
como trapos esfiapados produzidos pela claudicante cadeira de rodas sobre as
pedrinhas soltas do caminho.
E foi então que um estalido metálico, inaudível, senão no milionésimo de
segundo em que se imobilizou o alvoroço da vida despertou-o, anunciando o
romper-se da trava da cadeira de rodas que começou uma aceleração
incontrolável colina abaixo. E Cesar mergulhou nas lembranças do momento
exato no passado em que se perdeu na loucura, ao mesmo tempo em que
compreendeu que estaria morto antes mesmo de chegar ao fim do caminho e