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força  da  renovação  do  exercício  de  conhecer-se,  que  se  tornava  tão  mais
                      suscetível à autoindulgência quanto mais cálido estivesse o dia.


                      Nas manhãs de verão, quando a cidade naturalmente fria ainda não aceitara
                      o calor excessivo do sol, Victor saia a pé até uma confeitaria famosa por suas
                      iguarias em panificação e trazia coisas gostosas para o café da manhã, sua
                      refeição preferida. Encompridava o caminho da volta para dar-se tempo às
                      reflexões, passava pelos parques, cruzava com intencional vagar as praças,
                      parava a admirar os jardins e reconhecia que embora fosse capaz de apreciar
                      as temporadas no campo e os afazeres nas estâncias, era primordialmente um
                      ser urbano. Sentia-se bem andando as ruas largas e limpas do bairro elegante
                      em  que  ficava  o  casarão  Gatopardo,  vizinhando  com  as  velhas  mansões
                      senhoriais e sabia, com o saber do muito viver, que essa predileção se devia
                      principalmente ao fato de que era no ambiente urbano que ele conseguia ser
                      absolutamente só.

                      Nos momentos em que se propunha uma análise corajosa sobre seu segredo,
                      Victor, apesar da admissão de sua natural afinidade pela vida nas cidades com
                      sua  inevitável  artificialidade  em  meio  às  infinitas  regras  de  conduta,  se
                      reconhecia  apenas  superficialmente  civilizado,  como  o  eram,  ele  estava
                      convencido, a totalidade da raça humana e não apenas considerando os seus
                      contemporâneos, mas todos mesmo, os humanos do passado, do presente e
                      certamente o seriam os seres humanos do futuro.

                      Para  Victor  era  fato  incontestável  que  mesmo  o  melhor  e  mais  gentil  e
                      educado dos homens conseguiria ser apenas superficialmente civilizado.


                      A isso se seguia admitir sua inabalável crença na maldade intrínseca aos seres
                      da sua espécie e daí uma sequência de raciocínio lógico e baseado em fatos
                      determinados o levava à raiz do seu segredo.

                      Começava sempre com uma sincera busca pela máxima filosófica do conhecer-
                      se a si mesmo e Victor mentalmente enumerava os próprios defeitos. Detinha-
                      se entre vaidoso, teimoso e perdulário e passava logo para a reflexão de que
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