Page 42 - Girassóis, Ipês e Junquilhos Amarelos - 11.11.2020 com mais imagens redefinidas para PDF-1_Neat
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Mahoo sacudiu um torpor da lembrança do medo e prosseguiu na narrativa.
“____Fiquei muito quieto e senti o que ela dizia. Pois os encontros com a Morte
só podem ser descritos através dos sentimentos porque faz parte da sua magia esse
poder de envolver os sentidos para se comunicar. Não há nenhum som e nenhuma
voz e, no entanto, consegue-se ouvir tudo o que ela diz.” Explicou o puma e
continuou com a descrição da sua aventura.
“___Senti que Pequena Morte me fazia um cumprimento tentando ser o mais
gentil possível. Fiquei grato porque esta percepção teve o efeito de afastar grande
parte do medo e consegui compreender claramente o sentimento que ela me causava
e que era sua narrativa.”
“___Foi então que ela anunciou a vinda de Grande Morte?”
“___Não,... não, muito depois! Primeiro me fez sentir e assistir tudo sobre o
início dos tempos. O manto cinza perolado foi ficando fino e translúcido e eu pude
ver como se tudo estivesse acontecendo naquele momento. Vi uma época remota
quando as terras foram se resfriando com o transcorrer das eras, quando a própria
Pequena Morte surgiu em oposição a sua irmã gêmea, a vida, que se agitava nas
águas na forma de elegantes filamentos em espiral onde estava gravado o código
do mistério da formação de todos os seres que haveriam de povoar a Terra, há
quinhentos milhões de anos.”
O puma fez uma longa pausa e percebeu a atenção de Loop que, fascinada
pelo que ele contava, não movia um único músculo. Fechou os olhos para
conseguir rever cada detalhe daquele momento mágico e, revendo tudo,
recordando as lições da morte, prosseguiu.
“___Pequena Morte me falou dos tempos idos quando as selvas cobriam a maior
parte da terra seca e os mares tinham seres do tamanho das árvores que precisavam
da força das águas para poderem se mover e de quando tais seres começaram a
caminhar sobre a terra. Depois me falou dos dias em que criaturas apoiadas em
duas pernas desceram das árvores e começaram a viver em cavernas escuras. Tão
cheios de medo que haveriam de se tornar os animais mais perigosos da criação.