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Capítulo 2 Isabeau
Para Isabeau que haveria de recordar por muitos anos o momento em que vira
a loucura se apossar da consciência do seu tio avô Cesar Astu Ninan, aquele
foi um instante de definição de quem ela seria.
Deparou-se face a face com a loucura na sua forma mais absoluta. Viu-a na
luz sinistra que se desprendeu dos olhos que ela antes percebia meigos e
reconheceu-a na prostração implacável que se abateu sobre Cesar.
Percebeu que Cesar foi atirado numa inconsciência tão profunda e
inalcançável que os médicos diagnosticaram um coma severíssimo com apenas
olhá-lo, estarrecidos pela máscara da morte que não era morte, mas um estado
infinitamente mais cruel por significar a fuga voluntária aos desígnios da vida.
Nos primeiros instantes aterradores, Isabeau teria sucumbido ao desespero e
às lágrimas, mas foi salva de se perder pelas necessidades urgentes que
contavam apenas com ela para serem atendidas. Via o corpo desfalecido de
César, tão completamente vulnerável e abandonado pela consciência que ela
sempre reconhecera vibrantemente lúcida e se superou exigindo de si mesma
capacidade de controle.
Percebeu-se completamente alerta, ciente de todo e qualquer movimento, tão
atenta que quase conseguia adivinhar o que aconteceria na sequência
inevitável dos diminutos milésimos dos segundos seguintes e seguintes e
seguintes, no encadeamento sem fim que só teria termo quando ela assim o
determinasse.