Page 122 - Girassóis, Ipês e Junquilhos Amarelos - 13.11.2020 com mais imagens redefinidas para PDF-7
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da mãe e da irmã, os brados do pai e do irmão e a tentativa de negociação dos
empresários foram capazes de fazer Cesar abrir aquela porta.
Do palco começaram a vir os brados e os chamados de um público já
completamente impaciente e que se julgava desrespeitado. Logo se julgariam
enganados. Os ânimos, dali para frente, ameaçavam se tornar intransigentes.
Mas Cesar não abria a maldita porta.
A mãe de Cesar, já histérica, estava à beira de um colapso. O pai esmurrava
porta e parede indistintamente, o irmão escondia a cabeça nas mãos em
desespero e a mulher de Victor não conseguia conter as lágrimas. Mas a porta
continuava trancada.
Então, quando tudo o mais falhou, arrombaram a porta para encontrar Cesar
encolhido num canto do camarim, meio despido, febril e insano, com o olhar
ausente dos muito perturbados e praticamente incapaz de compreender o que
estava acontecendo.
Foi sua primeira crise.
Espalhou-se a notícia de um colapso nervoso, uma febre mental que havia
acometido o menino gênio e que o obrigara a retirar-se para um longo período
de repouso absoluto em paradeiro secreto. E era tudo verdade. Cesar saiu
daquele camarim carregado como um bebê, em posição fetal, de olhos
vidrados e incapaz de formular uma única palavra, além de parecer
totalmente alheio ao que sucedia ao seu redor.
Seguiram-se dias de caos e informações contraditórias, as manchetes iam
desde especulações sobre um grande golpe publicitário até insinuações sobre
uma morte inexplicável.
Legiões de jornalistas e fotógrafos bisbilhoteiros precisaram ser contidas e
formularam-se e adotaram-se planos extraordinários para despistá-los.