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E foram estas lembranças que se infiltraram na sua recém descoberta força
para enfrentar o destino e o colapso de Cesar e para ela marcar os números do
telefone do casarão em que nascera, para falar com seu avô, Victor Gatopardo,
em Terra Alta.
Isabeau conseguia visualizar o aparelho, ao pé da escadaria, pois máquinas
com barulhos estridentes eram mantidas afastadas da biblioteca, considerada
um santuário por Victor.
Para o avô Victor Gatopardo, a biblioteca era um lugar permitido apenas aos
preciosos livros, à música, às obras de arte e às reuniões com amigos
cuidadosamente escolhidos, entre goles de conhaque e baforadas dos charutos.
Feita a discagem Isabeau percebeu, do seu lado do fone, o toque da
campainha insistente do aparelho a se derramar pelo corredor do casarão
Gatopardo. Pediu em pensamentos, com um fervor reservado às orações, que
fosse seu avô Victor a atender ao telefone.
Ouviu um alô numa modulação profunda que fez seu coração acelerar e uma
vertigem a obrigou a segurar nos braços da poltrona.
Em resposta à voz de Jacques Lan, tão ardentemente desejada e tão
cuidadosamente evitada, Isabeau sussurrou.
“__Preciso falar com Victor, é urgente.”
Desejou que sua voz não fosse reconhecida. Houve um longo silêncio e depois
a certeza de que este segundo pedido também não fora atendido, pois recebeu
a pergunta num tom muito brusco, o mesmo tom que tinha a capacidade de
provocar nela uma agitação doída. Jacques Lan perguntou. “__O que
aconteceu?”
Agora as lágrimas, até ali corajosamente contidas, cegaram-na das paredes
áridas do quarto de hotel. “__Chame Victor, por favor.” Implorou. E a resposta
de Jacques Lan, exigente e grave. “__Não! Antes me diga o que aconteceu.”