Page 48 - Girassóis, Ipês e Junquilhos Amarelos - 13.11.2020 com mais imagens redefinidas para PDF-7
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Morte que é algo inacreditável e, no entanto devo acreditar, porque é você quem me
diz dessa doçura e porque eu o conheço de antigas trilhas e porque se assim não for
não restará esperança.”
As palavras da raposa soaram profundas e tristes entre as rochas e o solo árido
da planície andina. Uma brisa leve veio soprar aquelas palavras para cada
pequeno espaço entre as rochas, para cada pequena pedrinha. Envolveram
cada grão de pó e as poucas plantas corajosas que nasciam e viviam da dureza
daquela paisagem ocre e vermelha, cheia de uma força invencível e tranquila.
Subitamente uma chuvinha miúda e impossível, naquele recanto do mundo
onde nunca chovia, começou a molhar os caminhos gelados.
Espantados e atendendo ao instinto de animais selvagens, o puma e a raposa
voltaram os olhos ansiosos para o lugar misterioso no alto da rocha vermelha
que suportava a presença invisível de Cesar Astu Ninan e maravilhados
puderam perceber quase instantaneamente o contorno que começava a se
definir contra o azul do infinito, reverberando às milhares de gotículas de água
a refletirem, qual um universo de minúsculos brilhantes, a luz esmaecida do
sol poente. Recortando e traduzindo uma figura ancestral contra o céu do
escurecer.
A imagem foi emergindo, explodindo de luz e brilho, deixando aparecer o
corpo muito alto e muito magro do homem. Viram que ele era muito velho e
quieto e que parecia muito triste e fraco. Que estava curvado como se sob um
peso descomunal que o esmagava, provocando um terrível sofrimento.
Em tudo fazendo pensar em uma carga de dor.
No mesmo instante, simultaneamente a capacidade inesperada dos animais
de enxergá-lo, Cesar Ninan readquiriu sua própria capacidade de auto
percepção.