Page 22 - Girassóis, Ipês e Junquilhos Amarelos - 15.11.2020 com mais imagens redefinidas para PDF-11_Neat
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A boa e simples mulher não imaginava que estava destinada a provocar uma
mudança crucial na vida da infeliz criatura presa entre as paredes do casarão.
Em retrospectiva dos acontecimentos, Consuelo seria forçada a reconhecer
que nunca fez realmente nenhum grande esforço para ser aceita no mundo
melancólico da pequena Isabeau.
Ela era tão terrivelmente carente, ingênua e solitária, que teria correspondido
imediatamente ao menor sinal de interesse por sua frágil e desolada figura,
por parte de quem quer que fosse. E assim, Isabeau foi atraída para o convívio
com a cozinheira com a mesma certeza e facilidade com que uma borboleta é
atraída para a luz e logo a aconchegante cozinha se tornou o centro da vida
da menina.
Ali, naquela cozinha, Isabeau começou a passar longas horas em conversas
intermináveis com a bondosa mulher.
Um dia, sem desconfiar do quanto a magoaria, Consuelo perguntou à menina
quando iriam fazer bolos e doces para festejar seu aniversário. A surpresa da
pergunta deixou Isabeau abalada porque ela simplesmente não conseguia
atinar com a resposta.
Mesmo seus mais enérgicos esforços foram inúteis para fazê-la se lembrar de
uma única vez em que seu avô, Victor, ou seu tio avô, César, houvessem
apenas mencionado ou feito a mais leve referência à data.
Os dois homens traziam-lhe uma montoeira de presentes a cada chegada.
Na totalidade, badulaques comprados por assistentes e secretarias que não
tinham nenhum conhecimento ou interesse pela menina, eram quinquilharias,
uma coleção de coisas completamente inadequadas que sequer Isabeau
saberia como usar, mas que a enchiam com seu prazer infantil. Tantos pacotes
coloridos serviam admiravelmente à manobra dos dois homens decididos a
mantê-la à uma distância confortável.