Page 301 - Girassóis, Ipês e Junquilhos Amarelos - 15.11.2020 com mais imagens redefinidas para PDF-11_Neat
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atenderia a mais profunda ambição da sua mãe e finalmente se transformaria
no filho que eles sempre desejaram ter.
Nunca entendeu, nem mesmo com toda sua genialidade, que tudo o que seus
pais desejavam, era vê-lo feliz e integrado e seguro, a salvo daquela perigosa
tendência de resvalar para a autodestruição. Convencidos de que estar Cesar
aconchegado à sua família era a única forma de felicidade.
E que eram eles, quem verdadeiramente, viviam a suprema tragédia de serem
os únicos a compreenderem que para um gênio como o de Cesar só o desafio
da criação do supremo, do sublime, poderia possibilitar alguma realização.
Mas só lhes restou se conformarem à decisão dele, egocêntrica e mesquinha,
de abandonar a música e, verem-no, ano após ano, perdido e agoniado como
um viajante parado no guichê de passagens sem saber responder ao vendedor
dos tickets qual o destino desejado.
Viram-no voltar aos colóquios com a morte mantidos desde muito cedo.
Longos diálogos solitários em que debatia com a soberana máxima das
existências por quanto tempo ainda suportaria seguir uma vida para a qual
não via nenhum sentido.
Amarguravam-se e sofriam, mas mantinham sua aparência de normalidade.
Forçaram-se a se conformar pelo afastamento total do filho que escolheu viver
como se seus pais e familiares não existissem.
E finalmente, sem alternativa, afastaram-se dele.
E Cesar, em meio a essa rebeldia sem causa, escrevia contos.
Deliciava-se criando personagens que representavam seus desejos e suas
esperanças assim como suas dores, mágoas e medos, mas foi apenas quando
encontrou a veia de inspiração em que conseguiu espelhar seus sonhos mais
íntimos que sua escrita ganhou uma personalidade cativante, brilhante, com