Page 9 - Cinemas de Lisboa
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Kinetographo em 1896

                  Até ao final do século XIX apenas outra sala, o "Salão Avenida", situado na Avenida da Liberdade, em
                  Lisboa, aderiu ao espectáculo do cinema. Foi na primeira década do século XX que se verificou a
                  expansão do espectáculo cinematográfico, conquistando, para além do público popular que no
                  animatógrafo encontrava  entretenimento barato, variado e  acessível, também a burguesia e certos
                  intelectuais.

                  João Freire Correia, fotógrafo, inicia a sua actividade ao comprar um projector para a inauguração do
                  "Salão Ideal" ao Loreto, em 1904, a primeira sala de cinema portuguesa. Funda a produtora, “Empreza
                  Cinematographica Ideal”, cinco anos depois, para a qual roda vários filmes, como a "Batalha de Flores"
                  que alcançou grande êxito. Foi operador de  "O Rapto de Uma Actriz",  primeiro  filme de entrecho
                  português, realizado por Lino Ferreira em 1907.

                  Num dia de Verão de 1906, na “Feira de S. Miguel”, no campo onde depois nasceu a actual Rotunda da
                  Boavista, os portuenses assistiram à primeira sessão de cinema de que há  memória na cidade, em
                  termos de espectáculo aberto ao público. Não foi essa a primeira vez que no Porto se projectaram filmes,
                  mas os  espectáculos de 1906 marcam, com certeza, o início da longa história portuense da exibição
                  cinematográfica. Os responsáveis pelos  históricos acontecimentos cinematográficos da  “Feira de  S.
                  Miguel” foram António Neves e Edmond Pascaud.

                  Em 1907 abre o "Salão Chiado" nas instalações dos "Grandes Armazéns do Chiado", na Rua Nova do
                  Almada em Lisboa.  por iniciativa Raúl Lopes Freire,  filho de um respeitado comerciante lisboeta. Em
                  1908 este  empresário abriria outra sala maior e com  mais conforto o  "Salão Central"  na Praça  dos
                  Restauradores.

                  Foi em 1907 que se realizou em Lisboa a primeira filmagem com registo de sons. Já em 1894 Edison
                  tinha tentado a primeira ligação dos  seus dois inventos, o  kinetografo  e o  fonografo. Mas o primeiro
                  aparelho  que realizava um sincronismo de imagem e som, foi criado em 1902 pelo grande percursor
                  francês Gaumont que lhe deu o nome de  cronofone. O local da filmagem  foi o pátio de um edifício
                  situado na Rua da Palma. Os audaciosos empreendedores foram joâo Freire Correia, então proprietário
                  da  “Fotografia  Londres”  na  Rua  das  Chagas  e  Manuel  Cardoso.  Conhecendo  a  fundo  a  técnica
                  cinematográfica do seu tempo realizaram uma das primeiras películas filmadas em Portugal e que foi
                  intercalada entre duas cenas da revista "Ó da Guarda".

                  Foi então  que  lhes ocorreu realizar o primeiro fonofilme português. Tiveram de improvisar tudo. João
                  Freire Correia conseguiu , no entanto, obter um sincronismo rigoroso, ou quase, ligando a câmara de
                  filmagem e o aparelho de gravação a dois motores eléctricos que trabalhavam a velocidades iguais. O
                  resultado obtido, atendendo aos recursos técnicos da época podia ser considerado notável. Foi «estrela»
                  dessa película falante a actriz e cantora de fados, Júlia Mendes. Em frente a velhos cenários teatrais,
                  rodeada por maquinismos pouco complexos do tempo,   a  artista cantou uma das canções então em
                  voga. "A Grisette".







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