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A razão? Por elas mesmas. É bom estar com elas. Crianças
têm um olhar encantado. [...] é fácil lidar com as crianças.
Os olhos delas se encantam com tudo.
Por isso quero ensinar as crianças. Elas ainda têm olhos
encantados. Seus olhos são dotados daquela qualidade
que, para os gregos, era o início do pensamento: a
capacidade de se assombrar diante do banal. Tudo é
espantoso: um ovo, uma minhoca, um ninho de guaxo, uma
concha de caramujo, o voo dos urubus, o zunir das cigarras,
o coaxar dos sapos, os pulos dos gafanhotos, uma pipa no
céu, um pião na terra. Dessas coisas, invisíveis aos eruditos
olhos dos professores universitários (eles não podem ver,
coitados; a especialização tornou-os cegos como
toupeiras, só veem dentro do espaço escuro de suas tocas
– e como veem bem!), nasce o espanto diante da vida;
desse espanto, a curiosidade; da curiosidade, a fuçação
(essa palavra não está no Aurélio!) chamada pesquisa;
dessa fuçação, o conhecimento; e do conhecimento, a
alegria!
Rubem Alves
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