Page 27 - ILUSOES 2020
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TEMPO CONTADO
O tempo nunca retrocede,
Nem roda, voltando ao início.
Sempre avança e sempre sucede.
E ninguém sabe o seu princípio.
O tempo precisa de ser marcado,
Para ter sentido e possa ser vivido.
Precisa de ser contado, comparado,
Com instrumentos para ser medido.
Podemos medi-lo pelo surgir do sol, da lua,
Ou pela sombra projetada de um gnómon solar,
Por uma acesa vela marcada a queimar,
Por ampulheta de areia, ou clepsidra de água,
Por precisos e síncronos pêndulos a oscilar,
Ou electrónicos cristais de quartzo a vibrar.
Parece não ser medição acessória, supérflua.
E porque queremos muita precisão,
Medimos exatas oscilações atómicas,
Com pequenas resoluções tão astronómicas.
Mas para quê tanta apurada e precisa exatidão?
Podemos perder tempo, ou bem aproveitá-lo,
Passá-lo à espera, ser adiado ou até sobrado.
Há, assim, várias formas de percepcioná-lo.
Mas para todos avança, sereno ou atribulado.
Obviamente, o tempo foi provado ser relativo.
Mais vagaroso quando olhado de outro lado.
Mais dilatado, se em movimento contemplativo.
Mas o tempo precisa sempre de ser contado.
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