Page 53 - Celina - Uma Pérola do Universo - Maria das Graças Paiva_Neat
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Ali em Celina, além da sua importância intrínseca, era
palco de acontecimentos interessantes na ocasião dos
casamentos:
As noivas que vinham das roças, iam se arrumar, na
casa de D. Zilda Guimarães, mulher do Sr. Nilo
Guimarães, dono da farmácia Jerusalém, que tinha o
dom da solidariedade, caridade; contava-se que as
moças ficavam imóveis, para que a senhora as vestisse,
da calcinha ao véu, depois eram levadas pelos
padrinhos, a pé, em cortejo, como uma procissão, para
o cartório, levando a população a correr para assistir os
mesmos.
Um casamento de inesquecível lembrança para o
escrivão aconteceu assim: chega ao cartório numa
manhã, um senhor acompanhado de sua filha e de um
sobrinho e falou, Sr. Tito esse rapaz seduziu minha
filha, e eu quero fazer a queixa para providenciar o
casamento, pois bem, o Tito datilografou a queixa-
crime endereçada ao subdelegado, Sargento Jonas, que
o rapaz, fulano de tal, havia praticado o defloramento e
que era preciso “reparar o mal” casando, além desse
documento também fez um ofício ao médico de Alegre,
requisitando exame ginecológico, já que o sobrinho
negava o acontecido; o resultado do exame foi positivo,
aí o rapaz voltou atrás e concordou em casar, marcando
o casamento para daí a quinze dias; chegando o dia
marcado lá estavam todos, a noiva não vestiu branco,
era uma moça simplória, mancava, pois, fora acometida
de paralisia infantil; o juiz de paz era o Sr. Álvaro
Teixeira, após os cumprimentos, na porta do cartório o
rapaz vira-se para a noiva e disse : “sai de mim
tentação”, e saiu andando apressado rua abaixo,
deixando-a muito envergonhada; nunca mais se ouviu
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