Page 35 - REVISTA MULHERES 6
P. 35

Mulheres
 Mulheres                                                Mulheres
                                                         Mulheres
 Mulheres
 Mulheres
 Carla da                Acredite no amanhã


 Silva


 Sampaio    A história de Carla da Silva Sampaio é um grande
                   exemplo do ditado “o que tem que ser será”



 “Eu leio os
 livros e através   ãezona e protetora dos fracos e oprimidos.   “Chorei muito. Fazia uma coisa que magoa, chorava.
 dos livros ou      Veterinária, se pudesse trocar de profissão,   Agora  não.  Aprendi  muito”.  A  vida  difícil  enquanto
                    seria  cuidadora  de  idosos,  pois  acredita   criança  e  adolescente  fez  que  desenvolvesse  o  amor
 vou aprendendo   Mque  essas  pessoas  precisam  de           próprio e elevou a sua autoestima.  “Hoje eu arrumo meu

 muita coisa. E   profissionais realmente humanos. Devido às condições   cabelo, vou à academia. Não é pro marido, é pra mim. De
 foi através   físicas os velhinhos ficam muito expostos principalmente   todas as coisas que te acontece, você tem que pegar uma
       aos maus tratos. Carla Silva Sampaio, já quis ser médica   coisa boa”, ensina. “O arroz queimou! E daí. Nada é
 deles que eu
       pediatra, mas decidiu não encarar a profissão, imaginando   100% ruim”.
 descobri que   que,  se  caso  fosse  atender  uma  criança  mal  cuidada      De onde tira toda essa força, a resolvida Carla
 nada é 100%   poderia até agredir uma mãe. “Já pensou chegar ao meu   explica que aprendeu muito com o Espiritismo. “Eu leio
       consultório uma criança com berne na cabeça? Eu mato a   os livros e através dos livros ou vou aprendendo muita
 ruim. Você
       mãe”.                                                   coisa. E foi através deles que eu descobri que nada é
 procura, você      Com mais de dez anos de profissão, resolveu ser   100% ruim. Você procura, você acha e pega aquela coisa
 acha e pega   protetora  dos  animais,  que  também  são  vulneráveis.   boa e guarda, porque se não...”
 aquela coisa   “Revolvi me dedicar aos bichos. Eles também precisam      Ela  também  contou  que  chegou  sim  a  ficar
       muito  de  ajuda.  Não  falam”,  esclarece.  Diferente  de   magoada com a “má drasta”, pois o abandono fez com
 boa e guarda,   alguns profissionais, trabalha com a prevenção já que não   que trabalhasse até em uma lavoura, trabalho pesado para
 porque se   gosta de ver seus clientes com problemas. “Meu ponto   uma menina pré-adolescente. Foi em decorrência da falta
 não...”  forte na profissão é a prevenção. Qualquer tipo de animal.   de  cuidado  com  a  saúde,  falta  de  conhecimento  e
       Ensino a cuidar para prevenir”. Ela também acredita que   condições  financeiras  que  perdeu  a  capacidade  de
       tem um ponto fraco em sua vida profissional, pois, faz   engravidar.
       somente a clínica geral e não se arrisca a fazer o que não      Mas, a vida se encarrega de tudo e a sorte que foi
       sabe, encaminhando quando necessário aos especialistas.   sua  companheira  lhe  encaminhando  à  casa  do  Sr.
              Casada e sem filhos por um pequeno problema de   Reynaldo Del Papa. O casal não tinha filhos e adotou as
       saúde na infância, é bem segura em falar que não tem    funcionárias. Os velhinhos passaram todos os bens para
       nenhum problema sobre o fato. “Hoje vejo que foi melhor   Marilda  que  consequentemente  adotou  Carla.  Com  a
       assim. Não tenho estrutura para acompanhar a educação   herança, pagou sua faculdade. Marilda que também tinha
       moderna. Queria que meu filho tivesse a educação que eu   um gênio difícil em nenhum momento a desamparou. “Eu
       tive”, explica. Diante a situação, adota todos os clientes e   tinha que usar o que ela queria. Marilda me adotou como
       se sente mãe de todos os animais.                       irmã.  Aí  voltei  a  estudar  nos  colégios:  Boa  Vista,
              Muito  amorosa  e  feliz,  Carla,  em  nenhum    Professor  Chaves  e  Frei  Eugênio.  Fiz  seis  meses  de
       momento mostra qualquer sequela sobre as dificuldades   cursinho”. Na época o curso de medicina veterinária era
       enfrentadas no início de sua vida. Aos 12 anos, era órfã de   considerado um curso caro. Carla queria fazer Ciências
       pai e mãe. Sua madrasta arrumou-lhe um emprego em       Agrárias que era mais barato para posteriormente pagar o
       uma  das  fábricas  da Alpargatas,  com  uma  jornada  de   curso de veterinária. Mas Marilda fez questão de pagar
       trabalho de oito horas por dia. Acordava às 4h para chegar   tudo. Mais tarde Marilda faleceu e Carla descobriu que
       às 6h no local de trabalho. Com risos, conta sobre o creme   era sua herdeira universal.
       “Maru” que usava para abaixar os cabelos. A veterinária        Com tudo isso, sempre tira lições boas da vida.
       relembra  que  a  convivência  com  a  tal  madrasta  era   Com a segurança de que tudo pode e deve ser visto de
       terrível.                                               vários  ângulos,  a  “Dra.  Pet”  finaliza  dizendo  o  que
              Saiu de casa e continuou trabalhando em casa de   sempre  fez  e  continua  fazendo:“Você  não  deseja  pros
       várias famílias. Jovem e muito humilhada, chorava a toa.    outros, o que você não quer pra você”, conclui.

 34 - Revista Mulheres - Dezembro 2015                                                  Revista Mulheres - Dezembro 2015 - 35
   30   31   32   33   34   35   36   37   38   39   40