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matéria, Regiane ainda era pré-candi-
data ao cargo de prefeita pelo PSDB.
Os espinhos também fazem par-
te da trajetória de Maria Sandra Tapa-
jós (Psol). Ela vem sofrendo inúmeros
ataques nas redes sociais, evidenciando
assim não apenas a intolerância política,
mas também o machismo. “O processo
eleitoral para mulheres e principalmen-
te para mulheres ativistas do movimen-
to feminista classista e socialista é um
verdadeiro calvário”, conta. “Queremos
discutir principalmente com as mulhe-
res de Uberaba para que elas compre-
endam melhor o que queremos dizer”,
comenta, lembrando que segundo essa
perspectiva a questão da terra é funda-
mental. “Afinal, a terra deve ser de todos
- homens e mulheres - que desejam nela
trabalhar”, completa.
Não raro, as mulheres relatam
um exercício cotidiano de solidão, medo
e angústia diante de um universo de
truculência. Afinal, é preciso de muito
apoio para resistir às expressões acalora-
das, além das ameaças reais ou simbóli-
cas. Para Kênia Borges (PSD), a situação
exige determinação, pois, segundo ela,
Maria Sandra Tapajós (PSOL) - Foto arquivo pessoal Uberaba ainda é muito conservadora e
patriarcal em todos os sentidos, princi-
É contra essa tempestade provocada por homens como João Teixeira Alves palmente na política. “A gente tem que
que as mulheres em Uberaba nadam todos os dias, em especial aquelas que desa- matar um leão por dia, pois é impressio-
fiam o poder político. Elas enfrentam não apenas o sofrimento próprio, mas o de nante como alguns homens dificultam a
suas antepassadas, carregando histórias de muita luta, dor e violência. Cada uma nossa caminhada política, querendo co-
navega por “rios calmos, mas profundos e enganosos para quem contempla a vida mandar e dirigir tudo”, desaba. Ela con-
apenas pela superfície”, como no conto de Conceição Evaristo. fessa que as dificuldades foram inúme-
O clima disseminado de confronto, geralmente do tipo nós-contra-eles abso- ras e de diferentes formas, mas “só me
luto, que tomou corpo na cultura política brasileira dos últimos anos, só fez piorar deixaram mais encorajada a continuar
ainda mais esse cenário de violência. É o que conta Patrícia Melo (PT), mulher jo- nessa caminhada política, buscando no-
vem, cheia de ideias e de espírito aberto, para quem a política se afigura mais como vos desafios, conquistando o meu espa-
uma vocação do que como um dever. “Não é só o machismo que nos violenta e quer ço e trabalhando para ser reconhecida
impedir nosso progresso em qualquer campo. Ser pré-candidata a prefeita pelo pela minha competência”, diz, lembran-
Partido dos Trabalhadores em tempos de tanta polarização me faz conviver com uma do a famosa frase de Clarice Lispector:
violência sem precedentes. Muito desrespeito comigo e com o partido que defendo “Liberdade é pouco. O que eu desejo
e escolhi seus princípios para pautar minha vida.” ainda não tem nome”.
Regiane Isidoro também compartilha a sua própria experiência, con- Assim como Maria Sandra e Re-
cluindo que a política “é realmente inóspita para mulheres”. Segundo ela, a giane, Simea Freitas (PSTU) é enfer-
violência política contra a mulher existe e precisa ser combatida. “Embora haja meira. Mas, sendo a única mulher negra
um discurso de que as mulheres devam entrar na política, tive a surpresa de pré-candidata à Prefeitura de Uberaba,
enfrentar preconceitos, e palavras como: você é um fantoche, você é um porco enfrenta não apenas o machismo como o
engordando para venda” e “sou ótimo amigo, mas não me queira como inimigo, racismo estrutural. Para ela, no entanto,
conta. Apesar disso, ela não esmorece. “Diante de tudo o que sofri, o desejo e essas opressões são inerentes ao sistema
a coragem de ingressar na política está ainda maior, pois enquanto houver o capitalista. “O que precisamos combater
silêncio dos bons, os oportunistas reinarão”, confessa. Até o fechamento dessa é esse sistema”, diz. Simea acredita que
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