Page 24 - REVISTA MULHERES 13
P. 24
Trabalho e proprietário do jornal e grande advogado, que acabei que escrevo e edito com muito carinho, sem qualquer
Comunidade gostando de leis. Durante muito tempo fiz cobertura patrocínio, e levando em conta as mesmas características
política – minha paixão de sempre, e jurídica, tema que
que considero sagradas no jornalismo.
também me conquistou.
Revista Mulheres - Gostaria de saber se tem alguma
Revista Mulheres – Como você vê o jornalismo atual, em matéria feita por você que provocasse mudança...
que os jovem jornalistas seguem manuais de Giselda Campos – Não saberia citar casos específicos.
comunicação? Tenho consciência, por outro lado, de ter contribuído com
Giselda Campos – Tenho muito orgulho de ainda no Jornal a evolução do jornalismo de Uberaba, e com o respeito
da Manhã, e portanto, desde o início, ter conquistado uma que hoje a profissão tem na cidade. Fui repórter
lista de fontes, que até hoje acho difícil ser superada. Os investigativa – subindo em muro pra ouvir e gravar
motivos são simples: a pessoa que passava a informação sabia reuniões “suspeitas”; correndo atrás de documentos;
que eu nunca revelaria seu nome – nem sob tortura. E mais: denunciando políticos e outras autoridades que se
que eu iria investigar a informação e que só a publicaria se a achavam acima do bem e do mal. Mudei o estilo de fazer
confirmasse sem a menor dúvida. Então, eu precisava de entrevistas – incluindo perguntas polêmicas. Mas, nunca,
novas fontes, desta vez que me ajudassem a confirmar, jamais ofendi qualquer entrevistado. Coisas desse tipo,
inclusive com cópias de documentos. Por mais que o tempo que muito me orgulham.
Marcante passe e que digam que o mundo mudou, eu continuo achando
que o jornalismo possui características eternamente sagradas, Revista Mulheres – O que você acha das redes sociais?
entre elas, conhecer a língua portuguesa; verificar Giselda Campos – Amo de paixão. Mas também me
Vereadora Denise Max entrega o título de informações; respeitar as fontes; só divulgar o que vem de decepcionam. Elas são o que há de mais democrático nas
relações humanas. Nenhum outro veículo de comunicação
fonte confiável. Nenhum ser humano é 100% independente,
Voluntárias : Regina, Cristina,Selma e Paolaabense à jornalista Giselda Campos mas todo ser humano pode ser ético. torna as pessoas tão iguais. Por outro lado, me entristece
Cidadania Uber
que muitos frequentadores não consigam enxergar a
Revista Mulheres – Cite algo que marcou sua trajetória... beleza destes espaços. Xingam, agridem, discriminam,
Giselda Campos - Entre os trabalhos paralelos que me ofendem, acusam sem provas, desrespeitam as instituições
*Da Redação Cidinha Coimbra
deram orgulho de fazer, está a criação e execução do jornal – enfim, agem como se estivessem no chuveiro... Aliás,
Com mais de 25 anos na Comunicação Social, atuando em cargos como repórter, redatora, editora-chefe, assessoria de laboratório do curso de Comunicação Social algumas expressões eu tenho vergonha até de pensar.
marketing, assessoria política, colunista e blogueira, a jornalista Giselda Campos abriu o coração em entrevista (Jornalismo/Publicidade e Propaganda) - Revelação, da Pessoas que ministram aulas para crianças e adolescentes,
exclusiva à Revista Mulheres. Entre outras revelações, ela conta que o título de Cidadania Uberabense foi a parte mais Universidade de Uberaba. Pra você ter uma ideia, nem pais e mães de família, profissionais que dependem da
marcante de sua história com Uberaba. Conta que o pai – severo e exigente – deu um tiro no próprio pé ao ensiná-la a ler e sala eu tinha pra trabalhar. Andava de um lado pro outro, avaliação pública para exercerem seu trabalho usam as
escrever antes mesmo de ingressar na escola, o que a aproximou de leituras abominadas por ele. O pai se viu com uma procurando lugares onde pudesse exercer minhas redes sociais para um festival de xingatórios. Respeito os
filha crítica, contestadora, leitora de tudo o que caía em suas mãos. O jornalismo, que era um sonho de infância, só se funções. Demorou um tempinho pra que o reitor Marcelo desabafos, as críticas, as denúncias, mas me falta
concretizou depois de outras tentativas de agradar ao pai – que achava que a profissão era coisa de homem. Segue a Palmério finalmente reconhecesse que ele havia apostado compreensão para xingatórios.
entrevista na íntegra... no projeto certo e na pessoa certa. Só quando viu o
primeiro jornal pronto é que então, passei a usufruir de Revista Mulheres – Você disse que se mudou para
estrutura adequada. Infelizmente, na medida em que o Uberaba ainda muito jovem. Desde então, o que mais a
Revista Mulheres - Por que você escolheu a profissão mafiosos. E o que é pior: quando percebi que ele estava jornal Revelação se revelava um sucesso, revelando os marcou enquanto moradora da cidade?
de jornalista? sumindo com alguns livros, passei a ler escondido. Até no bons alunos, eis que ganhei alguns “adversários” na Giselda Campos – Essa é fácil! Apesar de ter muitas
Giselda Campos - Quando criança eu tinha duas fundo da lata de feijão tinha livro que eu ocultava. Voltando instituição. Uma das minhas características pessoais – não alegrias e conquistas para comemorar, a mais marcante
profissões na cabeça e no coração: de detetive particular e ao início da conversa, não dava pra eu ser detetive sei se boa ou ruim - é não levar desaforo pra casa. Preferi foi, sem dúvida, o título de Cidadania Uberabense.
de jornalista. Ao falar “criança” estou me referindo a particular – apesar de ter feito um curso por pedir demissão. Tenho um carinho especial por Campina Verde, onde
“criança” mesmo! Meu pai, que Deus o tenha, era professor correspondência. E nem jornalista, porque meu pai achava nasci e de onde saí adolescente. Mas foi em Uberaba que
e dos bons! Agradeço sempre por isso! Quando ingressei na que era profissão de homem. Então saí de Campina Verde, Revista Mulheres – O que você já fez no jornalismo e formei minha personalidade, que realizei meus sonhos
escola já sabia ler e escrever. Aos sete anos já tinha lido as onde vivíamos, para estudar em Uberaba. Ele queria que eu onde trabalhou, além do Jornal da Manhã e da Uniube? (ainda existem alguns pendentes...), que amadureci
coleções quase que completas do José Alencar e de fizesse Medicina, mas o convenci de fazer Psicologia, e Giselda Campos – Há mais de 25 anos atuo na minhas ideias. E receber o título de Cidadania
Monteiro Lobato. Patas da Gazela, O Guarani, Diva, O quando faltava um semestre pra me formar, mudei pra Comunicação Social, em cargos como repórter, redatora, Uberabense foi uma espécie de abraço que a gente
Tronco do Ipê, Senhora, A Viuvinha e o mundo de Pedrinho Pedagogia. No dia da minha formatura, fui convidada pra editora-chefe, assessoria de marketing, assessoria sempre espera da terra-mãe. Não foi fácil subir no palco
e Narizinho faziam parte da minha vida. Estes eram os fazer um teste. Nunca mais deixei o jornalismo. política, colunista, blogueira. Trabalhei, entre outros do Cine Teatro Vera Cruz e ficar de frente para aquela
presentes de aniversário e de Natal que meu pai me dava. lugares, no Jornal de Uberaba, Jornal Lavoura e imensa plateia. Pode não parecer, mas sou extremamente
Ele foi esperto, mas também deu um tiro no pé. Era severo, Revista Mulheres - Qual foi a primeira empresa que Comércio, Secretaria de Estado Desenvolvimento Social tímida. Entretanto, quando a autora do projeto, a
intolerante, exigente, machista – e, de repente, não mais trabalhou? (Gabinete do Secretário), Prefeitura de Uberaba (Gabinete vereadora Denise Max, se aproximou com o título, eu
que de repente, se viu com uma filha crítica, contestadora, Giselda Campos – Foi no Jornal da Manhã que fiz o teste do Prefeito) – neste último caso, primeiro de assessora, e não vi mais ninguém. Só vi a querida Uberaba – como se
avançadinha, leitora de tudo o que caía em suas mãos, no dia da minha formatura em Pedagogia e onde trabalhei depois, por ter sido aprovada em concurso público. fosse um quadro de Pablo Picasso ou de Leonardo da
inclusive sobre Che Guevara , histórias de detetive e sobre muitos anos. Aprendi tanto com o saudoso Edson Prata, Também criei um blog de notícias – o blog Conta-Gotas, Vinci, meus preferidos.
24 - Revista Mulheres - Julho 2018 Revista Mulheres - Julho 2018 - 25