Page 11 - catálogo novo
P. 11
TALES CASTELO BRANCO SCARAMOUCHE
PAULO SÉRGIO LEITE FERNANDES
Há raras testemunhas daquele passado Guardamos, em geral, muitas coisas, entre
tenebroso. Entranhadas no con ito gerado pela objetos e documentos. Relembrem-se os avoengos.
ditadura, constituem pedacinhos da História do Usavam costumeiramente caderninhos pretos, o
Brasil. Tales é fortíssimo herdeiro do passado. relógio cebolão, a corrente de ouro ou prata, cani-
Arquiteto do próprio futuro, compôs a estrutura do vete e bengala. Nas cadernetas, em letra miúda,
melhor que o país pôde apresentar em coragem, punham versos preferidos, a pétala de rosa colhida
cultura e contribuição à democracia. Forjou a alhures, desenhos até. Reforçavam nos escritos a
armadura durante os chamados “anos de chumbo”, lembrança de episódios importantes. Num dos mui-
não negando auxílio a clientes bem nutridos e a UM AMULETO DA LIBERDADE tos livretos que tenho há o assentamento de con-
atores desprevenidos, estes Ministros caídos em ARNALDO MALHEIROS FILHO versa mantida com Tales Castelo Branco. Quem o
desgraça, aqueles outros fugindo a pé enquanto conhece sabe do amor que devota ao campo. Não
enterrando em areia fofa umas rotas sandálias de Falar de Tales é uma alegria, que começa com a recordação de meus primeiros dias na pro ssão. se dirá ser fazendeiro compulsivo, mas gosta de
andarilhos. Daquela época aziaga ainda há sequelas Já então ele era um nome na advocacia criminal, cujas histórias eu ouvia e admirava. Ao conhecê-lo espaços abertos e verdejantes. Tales veio para São
a consertar, porque o veneno ditatorial mudou Paulo enquanto pequeno. Nasceu no Ceará.
alguma roupagem, vestindo agora adereços pessoalmente, o encanto proveio da maneira gentil e carinhosa com que tratava os noviços, como É bom cavaleiro. Ofereci-lhe, faz tempo, relho ve-
cravejando a instrumentalização do processo penal iguais, sem nenhuma pretensão de ser ídolo ou mentor. tusto aparelhado em couro trançado, haurido
brasileiro. No fim de tudo, os criminalistas Convivendo nos campos de batalha a admiração só cresceu, ao ver um homem amável, em feira de antiguidades. Aceitou a oferta, afagou
reproduzem, em certa medida, “Scaramouche, lhano, porém capaz de extremo vigor nas ardorosas defesas. Uma encarnação perfeita do o chicote e disse: “Vou guardá-lo. Vem de você mas,
Fazedor de Reis”, livro escrito por Rafael Sabatini: o “suaviter in modo”, “fortier in re”, ou seja, quem é mais suave na forma é mais forte na substância. Assim no rancho, quando quero cavalgar depressa, encos-
advogado André Luís, perseguido pelo Procurador- ele advoga: toda a sua doçura em nada impede, antes enrijece a rmeza com que defende suas posições, to no animal um raminho colhido em árvore cujos
Geral de França, disfarçava-se, usando máscara de no patrocínio das causas, nos órgãos de classe, na atuação política. galhos acariciam meu rosto.”
parlapatão enquanto atravessando estradas Esta Memorabilia que agora nos oferece serve para lembrar que os frutos não se tornam maduros Meu amigo Tales é assim. Recordei, adiante,
lamacentas da “Provence”, nos carroções da “troupe” por acaso. Há um longo percurso, desde a semente lançada na terra à recompensa da colheita. episódio envolvendo Tom Jobim. Ele pescava. So-
de Binet. Há na advocacia criminal muito prava ventinho macio. Alguém o advertiu
romantismo. Entretanto, somos assim, metidos Aqui vamos encontrar essa trajetória, dos “escritos da mocidade” ao debate de temas recentes
constantemente em duelos e nunca acicatando os como a delação premiada, gostosa amostra de sua cultura. Jurídica, sim, mas também literária, histórica, de faltar anzol na ponta da linha. Respondeu
que sabia, mas emendou: “- Cê acha que eu
desvalidos. política, não erudição estéril, pois parte do que se aprende nos textos para desabrochar nesses trabalhos, ia machucar o bichinho?”
Ocasionalmente, Castelo Branco desaparece onde o invejável domínio do idioma não é empolado nem a invocação das fontes de sua construção Tales Oscar Castelo Branco é um dos mais
soa exibida. Tudo vem na justa medida.
durante alguns dias. Os mais chegados, conhecendo TALES CASTELO BRANCO destacados criminalistas brasileiros. Veio lá detrás,
sua disciplina e dedicação, sabem que está a Tales não foge ao bom combate. E assim, sempre advogado, segue “na luta que só termina idos de 1964, quadrante perigosíssimo para
preparar uma outra defesa, posta na tribuna, com a morte”. Para os que têm a alegria de com ele privar, será sempre um amuleto da liberdade. a advocacia criminal. É enérgico, fortalecido na
depois, quase em arremedo de oração, espécie de
sacerdote experimentado e obstinado na arte da própria suavidade, calmo, seguro, carinhoso com
o próximo e rme no enfrentamento das causas
contestação. espinhosas. Defendeu – e defende ainda – muitos
clientes importantes. Fala pouco destes, mais pelo
nome dos carrascos, poupando os infelicitados.
A Vida, o Direito e algumas Memorabilia
ideias para o Brasil Tales Castelo Branco
Luís Roberto Barroso ISBN 978-85-61707-74-3
ISBN 978-85-61707-78-1
A obra “Memorabilia” mostra a
Em versão brochura, compilando trajetória dos “escritos da mocidade”
do grande advogado Tales Castelo
discursos de formatura, páginas de
sentimento, como diz o autor, além Branco ao debate de temas recentes
como a delação premiada. Obra
de conferências realizadas nos últi-
mos anos, a obra “A Vida, o Direito e “jurídica, sim, mas também literária,
histórica, política”.
algumas ideias para o Brasil”, escrita
pela caneta do ministro do STF Luís
Roberto Barroso, traz algumas das
perspectivas que marcaram – e ainda Especificações
Tamanho: 24,3x19,4 cm
norteiam – a trajetória do jurista, ad-
mirado por propor soluções originais, Páginas: 320
dotadas do sopro da modernidade. R$130,00
50% de desconto
Especificações Faturamento a combinar
Tamanho: 22x14,8 cm
Páginas: 224
R$65,00
50% de desconto
Faturamento a combinar