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DOSSIÊ
Discorrendo sobre estudos de gênero no Brasil, Heilborn e Sorj (1999) afirmam
que a partir da década de 1980 os estudos de gênero e trabalho recebem grande impul-
so, por um lado, de transformações sociais expressas no notável crescimento do empre-
go feminino industrial desde os anos 70, e por outro, do desenvolvimento das análises
de gênero, ou seja, das desigualdades de gênero sobre o conjunto da vida social.
A partir daí entrou em pauta — com força — a análise do ingresso em larga
escala das mulheres na força de trabalho industrial e, ao mesmo tempo, o seu con-
finamento às posições mais mal remuneradas e de menor qualificação. A análise da
participação das mulheres no mercado de trabalho também passou a levar em conta
os condicionantes impostos pelo ciclo reprodutivo e a vida familiar (idade, situação
conjugal, número de filhos e idade deles) e pela acumulação de responsabilidades do-
mésticas e cuidados com filhos e demais familiares. A condição familiar, diferenciada
por gênero, seria apropriada pelo mercado de trabalho, que designaria lugares distin-
tos e hierarquicamente dispostos para homens e mulheres, determinando o acesso
diferencial às ocupações, tarefas, perspectivas de promoção e treinamento, nível de
rendimento e outros (HEILBORN; SORJ, 1999). É o que evidenciam os gráficos 1 e
2, a seguir, a respeito da participação da mulher no mercado de trabalho no país, de
acordo com o nível de instrução e também segundo grupos de atividade econômica.
Por este último recorte, verifica-se preponderância feminina em funções referentes a
cuidados, serviços domésticos e áreas de educação, saúde e serviços sociais.
Gráfico 1 — Taxa de participação das pessoas de 16 anos ou mais no mercado
de trabalho, por sexo, segundo os níveis de instrução — Brasil, 2017
Revista Princípios nº 159 JUL.–OUT./2020
168 Fonte: IBGE, 2018.