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Cultura


                    Relacionar os trovadores medievais

                    galego-portugueses com os
                    cantadores nordestinos brasileiros

                    une as duas pontas históricas da
                    língua portuguesa, demonstrando

                    a sua importância internacional, em

                    movimento de busca de unidade



               pronunciados em 843 em Estrasburgo. Segundo ela,
                             As palavras texto e escrever não apresentavam naquele momento histórico o
                             sentido que elas têm hoje em dia para o leitor do século XXI. Trata-se de dois
                             juramentos pronunciados solenemente em voz alta, ditados a alguém que
                             sabia escrever que os “manuscreveu” ou “transcreveu”, guardados e copiados
                             sob a forma de manuscrito para serem lidos solenemente, em voz alta em
                             momentos futuros de crise política. O que é fundamental nesse processo não
                             é a palavra escrita, é a palavra falada, sagrada, declamada em voz alta, por-
                             tadora da verdade, já o documento escrito só serve como guarda-memória.
                             Durante séculos ainda, o verbo ler significará “declamar ou cantar um texto
                             ditado/escrito perante um público”, antes de se tornar também, através de
                             fases transitórias como ler em voz baixa ou com os lábios só, essa atividade
                             silenciosa dos tempos modernos que não precisa mais da voz do ser humano
                             nem da boca como seu instrumento (LEMAIRE, 2013, p. 9).


                      Lemaire (2013) entende que assim como o verbo ler modifica seu sentido até
               ter o sentido que tem hoje, o verbo escrever passará por transformação parecida. No
               período medieval, escrever corresponde a “transportar para o papel a palavra cantada/
               declamada/ditada, manuscrever ou transcrevê-la como suporte da memória oral”, o
               que é diferente do “ato da escrita moderna, que é muito mais um compor-escrevendo”
               (LEMAIRE, 2013, p. 9).
                      Nessa transição, é preciso que se compreenda a existência da escrita de acordo
               com o contexto sócio-histórico específico. Em outras palavras, é necessário levar em
               conta que Zumthor (1993) alerta para a marginalização da produção oral medieval,
               rotulada como infra ou paraliteratura. Ademais, o medievalista declara que o pre-
               conceito scriptocentrista faz com que se negue a oralidade em um texto do século XII,  Revista Princípios      nº 159     JUL.–OUT./2020
               por exemplo. Tal perspectiva advém não só da concepção letrada da formação “à eu-
               ropeia” e da escravização às “técnicas escriturais e pelas ideologias que a secretam”
               como também por uma compreensão homogeneizadora do longo período a que se
               denominou “Idade Média”.


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