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EDITORIAL
Muito o que debater,
muito pelo que lutar
A EUA. E, portanto, podia colocá-los diante da situação de serem
edição número 11 da Esquerda Petista começa a circu-
lar num ambiente de crise sistêmica mundial. Ou seja, convertidos, ou pelo menos a serem tratados, como se fossem
em meio a conjugação orgânica de inúmeras crises (am-
ca do mundo capitalista. O que, evidentemente, gerava contradi-
biental, sanitária, social, econômica, política, nacional, geopolí- aliados objetivos do principal oponente da potência hegemôni-
tica & cultural). ções para um projeto que se queria capitalista, mas não queria
De conjunto, trata-se de uma crise do capitalismo, por dois se limitar a condição dependente e associado.
motivos. O primeiro motivo é que no centro da crise estão as É este um dos problemas de fundo que marca o período
dificuldades do processo de acumulação, dificuldades que fica- que se abre em 1945, durante o qual a América Latina e Caribe
ram muito claras em 2008. O segundo motivo é que a sociedade seguiu sacudida por profundos conflitos econômicos, sociais e
que está em crise, a sociedade em que vivemos, é organizada políticos, que tiveram duas fontes principais: a pressão dos Es-
em torno da acumulação de capital e, portanto, a crise sistêmica tados Unidos sobre seu quintal e as contradições do capitalismo
desta sociedade é uma crise sistêmica do capitalismo, fato difícil dependente.
de ser compreendido por quem enxerga o capitalismo apenas O Bogotazo (1948), o governo Jacobo Arbenz na Guate-
como “economia”, no sentido estrito da palavra. mala (1951), a revolução boliviana (1952) e a revolução cuba-
A última crise sistêmica teve seu epicentro entre 1914 e na (1959) foram marcos deste período. Sendo que a revolução
1945. Foram trinta anos de caos global. Duas guerras mundiais, cubana marcou um ponto de inflexão, para os dois lados em
uma crise econômica geral, o nazifascismo, várias revoluções so- disputa. Logo depois, em 1964, começa o ciclo de ditaduras mi-
cialistas, duas delas vitoriosas e decisivas para compreender os litares; vinte anos depois, começam as democracias neoliberais;
dias de hoje: a de 1917, na Rússia e a de 1949, na China. e na segunda metade dos anos 1990, começa o ciclo geralmente
Foi no contexto daquela crise sistêmica que ocorreram, na denominado como de governos progressistas e de esquerda.
América Latina e Caribe, a grande revolução mexicana inicia- Infelizmente, a maioria dos governos progressistas e de es-
da em 1910, o movimento tenentista no Brasil nos anos 1920 querda que tivemos, na América Latina, a partir de 1998, não
e a chamada Revolução de 1930, a guerra contra os invasores entendeu adequadamente a situação aberta pela crise de 2008.
ianques na Nicarágua (1927-1933), o levante dirigido pelos co- Por conta disto, parte destes governos reagiram como se esti-
munistas em El Salvador (1932), o governo de Lazaro Cardenas véssemos em Woodstock, quando estávamos na Chicago de Al
no México (1934-1940), a primeira participação de Peron no Capone.
governo argentino (1943) etc. A ofensiva dos Estados Unidos sobre a região, a partir de
Aquela crise sistêmica abriu a janela, também, para que 2008, combinada com as movimentações feitas no plano inter-
alguns importantes países da América Latina (México, Argen- nacional, não conseguiu superar os problemas de fundo pre-
tina, Brasil) dessem início a um ciclo de industrialização, de sentes na situação mundial, seja no plano da acumulação de
urbanização e de modernização, abrindo a perspectiva de um capital, seja no plano geopolítico. E a pandemia agravou vários
desenvolvimento capitalista autônomo na região. desses problemas.
Concluída a Segunda Guerra, em 1945, os Estados Unidos É neste quadro, portanto, que devemos inserir a queda do
se jogaram à tarefa de “fechar a janela”. Na prática, isso colocou PIB de grandes potências e as notícias de uma segunda onda da
os defensores do desenvolvimento capitalista autônomo na re- pandemia. Pandemia que é mais forte exatamente nas Améri-
gião diante de um imenso dilema. Pois a luta consequente por cas: temos aproximadamente 13% da população mundial e 64%
um capitalismo autônomo lhes colocava em potencial choque, das mortes, como se destaca em um dos artigos desta edição de
maior ou menor, mais explícito ou menos explícito, com os Esquerda Petista.
2 ESQUERDA PETISTA #11 - Setembro 2020