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Aprendizados na terra roxa
Nilson Monteiro
O 14° Encontro Estadual das Academias de Letras, em Londrina, de 15 a 17 de novembro de
2019, sob a presidência de Pilar Alvares Gonzaga Vieira, foi (ou deve ser), em vários aspectos, uma
lição. De ótimos e maus exemplos.
Duas palestras, excelentes, deram o tom do encontro. Tanto a de Wolfgang Heuer, da
Universidade Livre de Berlim, sobre Hannah Arendt e Alexander von Humbold e as inquietações que
deveriam nos provocar, como a de Domício Proença Filho, da Academia Brasileira de Letras, sobre
Machado de Assis na Literatura Brasileira. Esclarecedoras, estimulantes, provocadoras de uma
dúvida especial: qual nosso papel como cidadãos do mundo/de nossa aldeia e como
produtores/consumidores de cultura? Só essas conferências e seus aspectos reflexivos justificariam
qualquer Encontro.
Excelentes também foram as apresentações artísticas que rechearam o evento do início ao
fim, inclusive com sarau e músicas interpretadas pelos acadêmicos. A magia da música embalou
todos os momentos: na abertura do encontro, por exemplo, com a apresentação de Ronei Marczack,
com a interpretação do Hino Nacional ao violino, e, depois, com seu filho cantando trechos de
"Haleluia", de Leonard Cohen.
Depois, na sensacional dupla Derico Siotti e Orquestra de Metais de Londrina, no não menos
sensacional e icônico Teatro Ouro Verde, e na deliciosa (para ficar apenas em um adjetivo)
companhia do Coral Cantoria Nossa, liderado por Meire Vallin, no jantar festivo. Outra nota positiva
a se registrar foi o número de participantes, quase uma centena, embora oscilante em todas as
atividades, entre acadêmicos, acompanhantes, palestrantes e familiares. Foi também positiva a
grande oportunidade de integração festiva e literária entre acadêmicos e academias, com a
distribuição de livros às mancheias.
Nem tudo foram flores, porém. Há detalhes a serem registrados que, infelizmente, não
acompanharam o nível das palestras, das apresentações artísticas e da confraternização.
Houve esvaziamento nas várias atividades programadas e em algumas oportunidades de
forma quase absoluta. Por exemplo, quando da apresentação da necessária troca de experiências
das academias e seu debate, que seriam o ponto fundamental desses encontros. Este "fenômeno" de
esvaziamento não foi privilégio de Londrina e é preciso o aprendizado para que não ocorra. É
necessário, no mínimo, repensar no que fazer para que esta troca de experiências seja um dos
principais pontos dos encontros, senão o primordial. Alguns sentiram a falta de conhecer melhor (e
debater) a experiência de Paranavaí ao preparar e, quem sabe, implantar a Academia Jovem. Outros,
ainda, de saber maiores detalhes sobre a vida de academias mais novas, como a de União da Vitória e
de Umuarama (entre outras). Ou compartilhar a experiência de como as academias se sustentam e
sobrevivem financeiramente. Foram citadas, informalmente, as academias do Rio Grande do Sul e de
Santa Catarina, que têm subsídios do Estado em forma de concessão de sedes etc.
Outro senão a ser registrado foi do protocolo oficial na composição de mesa para início do
evento. As presenças dos acadêmicos Sergio Alves Gomes, orador da Academia de Letras, Ciências e
Artes de Londrina (ALCAL), de Pilar Alvares Gonzaga Vieira e Maria Lúcia Victor Barbosa,
respectivamente presidente e vice-presidente da ALCAL, assim como de Lucrécia Welter, presidente
da ALCA, estavam corretas. Porém, não se justifica a ausência nesta mesa do representante no
encontro da Academia Paranaense de Letras (APL), jornalista e escritor Nilson Monteiro.
Afinal, a APL foi a fonte originária de todas as outras academias desta natureza no Paraná. E,
se não bastasse, seu representante não só é cidadão londrinense, como foi um dos mentores da
constituição da Academia de Letras, Ciências e Artes de Londrina, nos anos 1970, e seu membro
fundador, em 23 de setembro de 1978, sob a presidência de João Soares Caldas. Atualmente, além
de ocupar a Cadeira 28 da APL, Monteiro é membro honorário da ALCAL.
Durante o evento, Monteiro falou sobre as atividades da APL naquele ano e destacou, entre
outras, a criação do Observatório da Cultura Paranaense, presidido pela Academia Paranaense de
Letras, com a participação de entidades culturais de Curitiba e da ALCA, como representante das
academias de todo o estado. Destacou igualmente a inauguração da nova sede da APL, no
Belvedere, no Largo São Francisco, na capital paranaense, no dia 19 de dezembro também daquele
ano.