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IX - as fachadas do Pelourinho


                                                                             Alberto Beovides Bonachea



            O estudo das fachadas dos imóveis pesquisados pelo   estado de conservação, reduzindo assim a necessidade
            Projeto Pelourinho de Arqueologia permitiu perceber   de ações emergenciais. Em alguns casos, além da
            a evolução tanto tipológica quanto morfológica da   fachada, restaram só paredes perimetrais do lote                O DIÁLOGO COM A ARQUITETURA
            arquitetura, auxiliando na percepção da justaposição   fundiário. Os poucos vestígios, entretanto, tornaram-
            de estilos experimentados na primeira capital do país.   se valiosos para as análises da evolução diacrônica das
            O resultado dessa análise transformou a investigação   influências estilísticas pelas quais passaram os edifícios.
            das fachadas também em uma ferramenta de datação,   Apesar das demolições, foi possível enxergar em cada
            fazendo com que cada fachada potencialmente se   imóvel trabalhado as técnicas construtivas e materiais
            transformasse em marcador temporal.              utilizados, a composição de argamassas nas paredes, as
                                                             modificações que sofreram os vãos de portas e janelas.
                                                             Esse é o pano de fundo com o qual nos deparamos ao
            Contextualização                                 iniciar a pesquisa arqueológica em 2006.

            A pesquisa arqueológica enfrentou situações adversas
            desde o início, uma vez que os projetos arquitetônicos   Norte conceitual do trabalho
            disponíveis como base para nossas intervenções
            estavam desatualizados: foram feitos em 2004,    De forma geral, o trabalho arquitetônico do projeto
            baseados em cadastros realizados ainda nas décadas   está  embutido  num  diálogo  entre  a  Arqueologia  e
            de 1970/1980 ou em épocas anteriores. Em 2004, os   a Arquitetura, conhecido como a Arqueologia da
            escritórios contratados não conseguiram acessar o   Arquitetura. O arqueólogo argentino Andrés Zarankin
            interior dos imóveis em razão da grande quantidade de   (1999 e 2002) tem sido o principal postulador dessa
            lixo, restos de estruturas e vida vegetal existentes dentro   subdisciplina em nosso país. Segundo ele, a Arqueologia
            das moradias, o que impediu a atualização dos dados.   da Arquitetura
            Como consequência, pouco se conseguiu estudar da
                                                                pode ser definida, de maneira geral, como uma
            arquitetura dos edifícios em 2004. Inclusive, há casos
                                                                corrente de pesquisa que abarca todos aqueles
            em que a descoberta de subsolos só foi possível após a
                                                                trabalhos  direcionados  ao  estudo  da  arquitetura
            limpeza que antecedeu as obras em 2006.
                                                                de um ponto de vista arqueológico, quer dizer,
            Como resultado do programa arquitetônico desenvolvido   centrados na análise de sua materialidade. esse tipo
            anteriormente, as estruturas internas dos imóveis foram,   de abordagem oferece uma nova perspectiva de          141
            em sua maioria, demolidas independentemente de seu   análise para a discussão de elementos vinculados à





            Programa monumenta – IPhan
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