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ser entendidos como artefatos. E, sobretudo, entendidos doméstica à época era reduzida. Mais uma vez fica clara
como constituídos a partir da cultura material descartada, a necessidade de descobrirmos a origem do material
sendo eles próprios um segundo momento de descarte dos aterros.
desses artefatos, mas agora revestidos por uma nova
O projeto de arqueologia da 7ª Etapa está dentro de
função. Humberto Eco (1971, p. 204-215) pode ajudar
um projeto maior, que perpassa pela necessidade de
no desafio de entender os aterros quando define que a
solucionar o profundo problema social existente no
cultura material tem sua função primeira – que no caso
Centro Histórico da Cidade do Salvador, conciliando-o
dos aterros é a de aterrar – e suas funções segundas, ou
com a necessidade de se preservar a história e o ALGUNS RESULTADOS INÉDITOS
seja, todos os outros significados atribuídos aos artefatos
patrimônio cultural edificado daquela área. Nossa
além de sua função precípua. As funções segundas dos
colaboração, para além de aprofundar o conhecimento
aterros ainda precisam ser definidas. Nossas pesquisas
sobre o passado daquela cidade, aprimora a qualidade
estão em andamento e esperamos ao final determinar
das ações de proteção e conservação, que hoje têm
algumas delas. Os materiais constituidores dos aterros
uma base mais segura para suas intervenções.
são todos identificáveis e datáveis, mas infelizmente
ainda não nos foi possível estabelecer a origem desse
material, o que nos impede de aprofundar as questões
relativas a quem os produziu e utilizou, ou como e por Referências
que foram descartados.
ECO, Humberto. A estrutura ausente. São Paulo: Edusp,
As coleções de artefatos móveis derivadas das pesquisas 1971.
na área da 7ª Etapa vêm predominantemente dos
FUNDAÇÃO Gregório de Mattos; Universidade Federal
aterros, e formam um enorme conjunto de 400 mil
da Bahia; Centro de Estudos de Arquitetura na Bahia.
peças, composto por todas as categorias conhecidas.
Evolução física de Salvador: 1549 a 1800. Edição especial.
Merecedoras de especial atenção são as coleções
Salvador: Pallotti, 1998.
cerâmicas, vítreas e ósseas, muito numerosas –
em particular a cerâmica, que soma 250 mil peças NASCIMENTO, Ana Amélia Vieira. As dez freguesias da
para o total dos 63 imóveis pesquisados e, além de cidade de Salvador: aspectos sociais e urbanos do século
numerosa, é também bastante complexa, pois apesar XIX. Salvador: Fundação Cultural do Estado da Bahia,
de seus fragmentos serem predominantemente 1986.
datados do século XVIII, possui fragmentos de todas
VALADARES, Henrique. Considerações sobre a
as épocas e origens possíveis, inclusive indígenas.
funcionalidade do aterro na ocupação urbana de áreas
O que nos preocupa, numa avaliação apressada, é que
inóspitas do Centro Histórico de Salvador/Pelourinho, 2009
essa coleção seja interpretada como um reflexo de
(mimeografado).
uma sociedade rica em artefatos domésticos, o que
absolutamente não é real. Muito pelo contrário, a tralha 281
Programa monumenta – IPhan