Page 63 - Livro Adeia
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                Lembramos que o afastamento dessas crianças era muito penoso e só acontecia quando se esgotavam todos os recursos sociais existentes na comunidade. Ficava, entretanto, um desconforto e uma tristeza muito grandes, pois já não bastava essas crianças terem perdido suas famílias biológicas, também a instituição lhes negava acolhimento, ficando, assim, abandonadas outra vez. Esse era um tema recorrente em todas as reuniões de estudo e formação, tal o impacto que causava em todos.
Lembramos que a infraestrutura da Organização constituía-se, essen- cialmente, num conjunto de casas e uma escola infantil para crianças de 4 a 6 anos, a exemplo das aldeias infantis austríacas; todos os demais serviços [saúde, educação, espor- te, entretenimento] deveriam ser buscados na comunidade em geral; e que recurso humano mais impor- tante era a mãe SOS, que necessa- riamente não deveria ter formação acadêmica; o que se avaliava primor- dialmente era a sua motivação para o trabalho com crianças, era o amor que demonstrasse pelas crianças. Importante também registrar que a
realidade social da época, apresen- tava grandes lacunas, muitos vazios no atendimento às crianças e aos jovens, portanto não tivemos o apoio como instituição, como famílias que precisavam ser complementadas, para cumprir plenamente seu papel!
Outra situação delicada, presente nos primeiros anos da Aldeia e que se diferenciava da família biológi- ca, era a emancipação dos jovens: eles não poderiam permanecer na família SOS muito além dos 18 anos, pois outras crianças espera- vam por uma vaga; e, se não houves- se rotatividade, não acolheríamos outras crianças. Mas essa ruptura causava grande e desconfortante impacto nos jovens, especialmente para os primeiros jovens da Aldeia, pois ainda não havia, na Organização, a Casa da Juventude – pensada para eles e que só em 1983 foi construída. Esta Casa poderia passar a acolher os jovens, flexibilizando o momento da emancipação; ou seja, o momen- to em que esses jovens – criados nas duas primeiras famílias SOS e enfrentando maiores dificuldades ao completar os 18 anos – preci- savam estar preparados para
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