Page 133 - Reino Silencioso_O Mistério dos Corais Desaparecidos
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precisassem trocar olhares: não estavam apenas observando, esta-
      vam sendo convidados.


             Convidados a compreender aquilo que durante gerações os

      adultos haviam ignorado: O oceano tinha voz. E agora... confiava

      neles para escutá-la.


             Lívia sentiu uma lágrima quente misturar-se à água salgada
      de sua máscara. Sabia, com uma certeza antiga e irreversível, que

      nada seria como antes.


             Eles haviam sido escolhidos.






             O grupo mergulhava lentamente, como se cada braçada
      fosse um ritual. O silêncio absoluto ao redor parecia vibrar — não

      com ausência  de som, mas  com uma presença quase sagrada.

      Era como se o próprio oceano, ferido e esquecido, suspirasse atra-
      vés dos escombros do recife.


             À medida que se aproximavam  da  origem dos sons, seus

      equipamentos começaram a captar vibrações sutis. Não eram ape-

      nas ruídos, era algo mais... algo que lembrava vozes entrelaçadas
      em lamentos e esperanças, como cânticos antigos soprados pelas

      marés.


             Theo apertou o braço de Lívia com leveza, apontando para a
      frente:  do meio das formações mortas,  brotava uma luz tênue,

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