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Orelhas

Não sei o que mexe mais comigo: a necessidade or-
gânica de escrever ou os textos que produzo e com os
quais me lambuzo. Preciso saciar-me de algum modo
com esse desejo absurdo — quase compulsivo! — de
transformar palavras em barras de chocolate.
Há quem considere isso arte. Contudo, quem sofre
desse mal sabe que é difícil encontrar uma definição se-
gura para o que faz e no que se desfaz cotidianamente.
Nessa busca por respostas confiáveis, mesmo que
não definitivas, já faz algum tempo que descobri que
mais importante do que respostas (na verdade, apostas)
são as perguntas que me faço.
O que mexe comigo é bem complicado de explicar e
vai muito além da mencionada necessidade orgânica com
a qual lambuzo meu ego. Essa motivação está fora do
alcance de meu entendimento, embora saiba muito bem
o que sinto e como me sinto quando me envolvo com o
texto, comigo e com meus medos (que também podem
ser seus) enquanto escrevo sem saber o que busco ou do
que preciso. E, não raro, as barras de chocolate tornam-
se amargas, amarras das quais não consigo me livrar!

Nascido em 1961, em Ipatinga (MG), Sérgio Paulo
Braga é formado em Comunicação Social pela PUC-RJ.
Mosaicos é seu quarto livro. Autor de A dádiva da dúvida
(São Carlos, Pedro & João, 2011); Aê! Uma história de
primeiro amor (Lisboa, Chiado, 2014); e de Plátanos, crô-
nicas e poesias. (Lisboa, Chiado, 2015).

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