Page 5 - A CAPITAL FEDERAL
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conforme o palpite. Há perto de um mês que está apontando na primeira.
Figueiredo (À parte.) – É um jogador das dúzias!
Lola – Enquanto der a primeira, amá-lo-ei até o delírio!
Figueiredo – A senhora é franca!
Lola – Fin de siècle, meu caro senhor, fin de siècle.
Valsa
Eu tenho uma grande virtude:
Sou franca, não posso mentir!
Comigo somente se ilude
Quem mesmo se queira iludir!
Porque quando apanho um sujeito
Ingênuo, simplório, babão,
Necessariamente aproveito,
Fingindo por ele paixão!
Engolindo a pílula,
Logo esse imbecil!
Põe-se a fazer dívidas
E loucuras mil!
Quando enfim, o mísero
Já nada mais é,
Eu sem dó aplico-lhe
Rijo pontapé!
Eu tenho uma linha traçada,
E juro que não me dou mal...
Desfruto uma vida folgada
E evito morrer no hospital.
Descuidosa,
Venturosa,
Com folias
Sem amar,
Passo os dias
A folgar!
Só conheço as alegrias,
Sem tristezas procurar!
Eu tenho uma grande virtude, etc...
Mas vamos, faça o favor de indicar-me o quarto do Gouveia.
O Gerente – Perdão, mas a senhora não pode lá ir.
Lola – Por quê?
O Gerente – Aqui não há disso...
Figueiredo – (À parte) – Toma!
O Gerente – Os nossos hóspedes solteiros não podem receber nos quartos senhoras que
não estejam acompanhadas.
Lola – Caracoles! Sou capaz de chamar o Lourenço para acompanhar-me.
O Gerente – Quem é o Lourenço?
Lola – O meu cocheiro. Ah! Mas que lembrança a minha! Ele não pode abandonar a
caleça!
O Gerente – O que a senhora deve fazer é esperar no salão. Um belo salão, vai ver, com
um plafond pintado pelos nossos primeiros artistas!
Lola – Onde é?