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2º Conto: Uma História de amor                                          Compromisso assUmido no plano espiritUal


          a loja, e por último, minha filha, a nossa própria casa de moradia. Você é
          testemunha da nossa situação financeira. Vivemos de nossa aposentado-
          ria, nada mais nos resta a não ser a misericórdia de Deus, que te enviou e
          te fez forte para suportar tudo e as perdas que nós padecemos. Eu procu-
          ro não reclamar porque sei que tudo que nós passamos são consequências
          das nossas ações para com você e nossos funcionários, que nós prejudica-
          mos. “De nós” foi tirado tudo, foi retirado tudo aquilo que deveríamos ter
          pagado aos nossos funcionários e negros. Quantos deles foram acusados
          de roubo para que não fossem pagos os seus direitos, quantos deles fo-
          ram postos na rua, injustamente, para que não fosse pago o que eles de-
          sejavam, o que iriam receber da empresa como direitos ganhos. Quantos
          funcionários deixaram de ter suas carteiras assinadas,de receberem seus
          direitos, como manda a lei de César, minha filha?

               As lembranças dos erros cometidos maltratavam dona Salvina.

               ―Pude ver um dia, um pai de família ser demitido sem receber nenhum
          direito, ainda acusado de roubo por um de seus irmãos, tudo planejado, for-
          jado pelo seu pai e ele, a fim de que todos os outros pensassem que ele tinha
          culpa naquele episódio. Este pai de cinco filhos morava de aluguel, dependia
          daquele recurso para viver. Após o fato consumado - a armadilha, seu pai per-
          correu a comunidade alegando que o tinha posto para fora porque ele o havia
          roubado. O que gerou daí, filha, uma grande miséria, uma situação drástica.
          Vi, minha filha, com meus próprios olhos, os filhos do casal pedirem esmola,
          saírem na rua, de casa em casa, colhendo restos de alimentos nos caldeirões,
          latas, sacos de lixo, nas portas das casas, o pai ficou louco e foi internado no
          hospício. Após dez anos, nenhuma empresa contratou aquele homem, sua
          imagem ficou maculada, na verdade aquele simples e honesto trabalhador,
          nunca roubou o seu pai. Como isso me dói até hoje. Nós destruímos uma
          família. A mãe tornou-se prostituta, o pai enlouqueceu e os filhos caíram na
          rua, todos se rebelaram. A situação ficou muito difícil para aquela família e
          nenhum de nós  teve a coragem de dar a mão para ela.

               ―Mãe, será se nós poderíamos fazer uma investigação para saber o
          paradeiro deles? Perguntou Liz, emocionada, ao perceber a angústia da mãe.



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