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Entrevista



                                                   com Carcará













           Nos fale um pouco sobre o seu trabalho.
           Meu nome é Miguel Nerisson de Silva, também sou       Como você vê cena do graffiti e do hip hop potiguar?
        conhecido, aqui em Natal, como Miguel Carcará. Sou       A área do graffiti é uma área que, hoje em dia, se
        militante da cultura hiphop há mais de 20 anos, no  tornou  muito  ampla  no  país  inteiro.  Vejo  que  essa
        qual, eu comecei como MC, e até hoje levo a função  cena tem um potencial muito grande de crescimento.
        de mestre de cerimônia,  tanto de rapper, na área  Comparado a outros estados aqui dos nosso Nordeste,
        do graffiti, e na área do break que, eu sou bastante  o número de grafiteiros aqui ainda é considerado um
        envolvido, e assim eu coordeno o Movimento Cultural  número um pouco pequeno, por isso, é uma cena
        Nossos Valores.                                       que eu acho que tende a crescer. Aqui temos ótimos
                                                              artistas, de níveis incomparáveis e de muita produção,
           A respeito do movimento cultural Nossos Valores,  temos muitos interventores urbanos, e que  fazem
        como ele surgiu?                                      trabalhos comerciais também, e isso é bom... fortalece!
           O movimento surgiu justamente disso... da minha  O graffiti é um elemento da cultura, que  tem seu
        vivência,  ligado  à  essa  cultura  urbana.  Eu  já  vinha  próprio mercado e consegue  tirar o anonimato de
        participando de  várias outras atividades, grupos  várias pessoas. Então, é por isso que eu acredito que
        organizados  e tal...  e  daí  em  diante,  integrei  o  grupo  é uma cena que tende a crescer. Acredito que temos
        da CUFA (Central Única das Favelas), nessa época  que plantar essa semente e  fazer acontecer esse
        eu dava aula no Programa Mais Educação, na Escola  crescimento. Na verdade, tudo o que estamos criando
        Dulce Vanderlei, que fica na Redinha também. Então,  não é pra nós, estamos fazendo para uma geração mais
        quando eu comecei a fazer o trabalho de graffiti, eu  a frente. Em relação a cultura hip-hop, foi uma cultura
        vi  que as  crianças gostavam pra  caramba, e  o povo  que foi muito atacada. É bastante consumida. Alguns
        queria participar... até os “boy” que não eram da escola.  dos elementos artísticos se desprenderam um pouco.
        Foi quando a gente começou, juntei alguns meninos  Com a chegada da internet, deu uma velocidade muito
        e a gente começou a  fazer algumas ações  fora da  grande na infração, e, perante isso, também foi uma
        escola, na quadra, na rua, depois a gente começou a  realidade ,e as coisas foram se alterando, mas ainda
        usar o conselho comunitário, até que alugou a primeira  tem muita gente que segue as origens e as tradições
        sede, a própria sede, que ficava lá na Rua do Cruzeiro,  da cultura hip-hop. Eu creio que aqui  temos ótimos
        na Redinha. Passamos lá, uns dois anos, fazendo as  artistas,  tanto na música quanto na break, graffiti e
        atividades e depois fizemos a ocupação do galpão, que  discotecagem, só basta abrirem os olhos pra nós, com
        fica na comunidade da África. O espaço se encontrava  um pouco de visão coletiva, culturalmente falando.
        abandonado há alguns anos, bem deteriorado e tivemos
        essa ideia ocupar. Essa ocupação já faz três anos, a     Quais são seus planos para o futuro?
        gente deu  vida ao espaço, conseguiu interagir bem       Meu plano para o  futuro é continuar  fazendo o
        com a comunidade e fazemos parte das decisões da  que já venho fazendo, não tem nada de novo, não. É
        comunidade, interagindo no dia a dia. Temos atividades  fazer a mesma coisa que já venho fazendo, sendo que
        de break, desenho, penteado, zumba, reuniões e  sonhando cada vez mais. Então, acreditar num sonho
        aniversário das pessoas da comunidade. São  várias  é  importante,  acreditar  nas  pessoas,  acreditar  em  si
        atividades, e isso foi muito bom, independente de ter  mesmo e acreditar no que vc faz, acho que isso é que é
        financiamento ou não, a gente tem um trabalho real  importante. Esse é o plano para o futuro, é fazer melhor
        dentro da comunidade, acontecendo através da arte.  o que a gente já vem fazendo agora, incansavelmente.
        Então, isso aí é massa.
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