Page 22 - PEQUENAS VERDADES DISTRAÍDAS
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PÉ DE LARANJA LIMA
Se aquele menino
Do pé de laranja lima
Soubesse que coleciono temores,
Que vivo desassossegado,
Que minto, desenho falsos sois em um lívido céu;
Que meço palavras, tropeço em vírgulas
E que trago no peito a lembrança sem cor
Dos joelhos feridos;
Mover-se-ia em minha direção
Com a ternura de quem pouco viveu, mas muito sabe
Se aquele menino
Enigmático do pé de laranja lima
Tivesse olhos que pudessem ver
Além dessa casca tênue que me envolve,
Estenderia seus braços sobre meus galhos
Feito vento vadio.
E no misticismo mais profundo,
De suas diminutas crenças,
Entregue a ilusão pueril
Do amor às pequenas coisas,
Sob as fronteiras do tempo,
Olharia para mim admirado,
Homem feito brinquedo quebrado.