Page 14 - PEQUENAS VERDADES DISTRAÍDAS
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PÉ DE LARANJA LIMA

                     Se aquele menino
                     Do pé de laranja lima
                     Soubesse que coleciono temores,
                     Que vivo desassossegado,
                     Que minto, desenho falsos sois em um lívido céu;
                     Que meço palavras, tropeço em vírgulas
                     E que trago no peito a lembrança sem cor
                     Dos joelhos feridos;
                     Mover-se-ia em minha direção
                     Com a ternura de quem pouco viveu, mas muito sabe

                     Se aquele menino
                     Enigmático do pé de laranja lima
                     Tivesse olhos que pudessem ver
                     Além dessa casca tênue que me envolve,
                     Estenderia seus braços sobre meus galhos
                     Feito vento vadio.
                     E no misticismo mais profundo,
                     De suas diminutas crenças,
                     Entregue a ilusão pueril
                     Do amor às pequenas coisas,
                     Sob as fronteiras do tempo,
                     Olharia para mim admirado,
                     Homem feito brinquedo quebrado.
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