Page 28 - PEQUENAS VERDADES DISTRAÍDAS
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POETA PASSARINHO
sou um poeta só,
preso
à condição de passarinho,
bico, replico, complico...
nesse meu desajeitado caminho.
sou um poeta só,
preso
ao fraque negro de passarinho,
vivo entre gravetos secos, meu ninho,
às vezes invado a casa
onde mora o querer do joão-de-barro
e me ponho, distante e macilento jarro.
se voo, é porque sofro por não ter nascido peixe,
se canto, é porque padeço da sina do sofrê.
sou um poeta só,
preso
à danação dos ventos,
mora em mim o sol das zonas descampadas,
gosto de pousar sobre cactos imprevistos,
alimento-me da esperança dos brotos, frutos das flores.
essa é a minha ventura,
percorro campinas
levando na mente o peso de uma gaiola.
Se viajo em bando, é porque não sei escolher o caminho.
sou um poeta só,
preso
à condição de passarinho.