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Notícias da Gandaia JULHO 2019 | EDITORIAL 3 EDITORIAL EM TRÊS ANDAMENTOS
CADA VEZ MAIS LENTOS
|Ricardo Salomão
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Allegro: Ir a Banhos de Mar é coisa fina, coisa saudável e coisa recente. Nem todos podem, mas nós, em Almada, podemos: é já aqui.
Adagio: Por outro lado, a praia, é a nossa praia. Mesmo que esteja diferente todos os dias, mesmo que a areia tenha desapare- cido, ou milagrosamente seja multiplicada, como este ano irá acontecer. Mesmo que seja invadida semanalmente por milhões de lisboetas, é sempre a nossa praia, conforta- velmente familiar, que orgulhosamente partilhamos. Mesmo que abanquem a 7 centímetros de nós.
Pode ser coisa recente, mas já faz parte de nós, está na nossa cultura e está no nosso território.
A praia é uma excelente metáfora da rea- lidade. Vemos aquilo que queremos. Em qualquer uma das nossas praias, aquelas que julgamos conhecer tão bem, cruzam-se realidades muito distintas, interpenetram- se, moldam-se e interagem, transformam- se e evoluem sem parar. Sendo sempre a “nossa” praia. Mesmo quando olhamos e não vemos.
Uma das características curiosas desta si- tuação é que nos parece tão natural como beber água e tão natural como, ao fim do dia, ir para a cama dormir. Mesmo sabendo que nem sempre foi assim e que se trata de um hábito que só nos anos de 1900 se ge- neralizou.
Neste número do Notícias da Gandaia apresentamos algumas formas muito dife- rentes de viver as nossas praias. Anuncia- mos possíveis alterações profundas no comboio que, esperamos, irá continuar a ser o comboiozinho da nossa praia.
Esta perceção enganadora de naturali- dade esquece que o descanso é o fruto de uma longa batalha do trabalho, que a se- mana francesa, descansar dois dias, só che- gou depois do 25 de abril e mesmo antes, a semana inglesa, trabalhar o sábado de manhã e descansar à tarde e no domingo, era para muito poucos. o mês inteiro de fé- rias, pago como se estivéssemos a traba- lhar, é outra das conquistas de abril e pode-se dizer que não se encontram muitos países fora da Europa a praticá-lo. Resu- mindo, fins de semana e férias supimpas, é luxo mesmo e foi difícil chegar aqui. Há que saboreá-lo. E lutar para não o perder.
Grave. Finalmente, num número dedi- cado a praias, não podia deixar de assinalar – de agradecer – a mão solidária da ajuda nacional que pagou mais um reforço de areia na nossa frente atlântica.
Depois, isto da praia cresceu e ficou com- plexo. Tem rituais, tem moda, tem realida- des sociais intrincadas. Toda uma nova encenação que se adiciona às outras que já vinham dos tempos remotos, a persona profissional, a noturna... Na praia, a lingua- gem é minimal. Nos últimos anos acrescen- tou-se a tatuagem à imagem pessoal explicada em muito poucas palavras. Em al- gumas das nossas praias, mesmo sem pala- vras nenhumas.
Mesmo os portugueses que nunca foram à praia ajudaram a que a nossa defesa na- tural mais eficaz – as dunas – fossem refor- çadas. Que a prática de surf, que tanto contribui para a nossa economia, seja refor- çada e também, o nosso lazer, o nosso pra- zer, seja reforçado.
Se fossemos só nós, contribuintes de Al- mada, a suportar a despesa, seria possível resistir aos avanços do mar? |
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