Page 6 - Demo
P. 6
6
REPORTAGEM | JULHO 2019 Notícias da Gandaia
A MINHA PRAIA
É O FUNDO DO MAR
Mário Martins Figueiredo nas- ceu e mora na Fonte da Telha, onde fez e criou três filhos, um dos quais é pescador como ele.
mas de o apanhar: “conheço o fundo do mar todo, até à Lagoa de Albufeira. Sei a fundura dos locais, as pedras... são muitos anos...” Mas não era tudo, “ainda há a fe- zada, a fé de que ali ou acolá anda peixe, E pronto, lá vamos nós”.
preciosa nas nossas praias. Conhe- cida como Arte, no Norte, da Vieira até Espinho, e como Xávega, no Al- garve, ficou Arte-Xávega para todos.
Infelizmente, “há cada vez me- nos peixe. Cavala não, agora até parece haver mais. “Sardinha? Este ano há muita, mas nós não podemos pescá-la, só as traineiras é que têm quota, quando apanha- mos, temos de jogá-la fora, nem sequer para isco podemos ven- der.”
Mário Figueiredo foi determi- nante na transformação da Arte- Xávega. Quando viu tratores na praia, percebeu que tinha de exis- tir outra forma: “fui a Espinho ver como eles estavam a fazer com um sistema muito diferente. Foi lá que tive a ideia de fazer os alado- res de tambor que puxassem a corda e também as redes. Depois de os verem, todos começaram a usar esse sistema aqui.”
“A praia? Nós nascemos a olhar para a praia!” Vive na mesma praia há 72 anos, atravessou as grandes mudanças das últimas décadas: motores, tratores, novos mate- riais, novos tipos de barcos, novas redes... mas menos peixe e mais lucro nos intermediários.
Na Fonte da Telha, agora, só há três companhas de Arte-Xávega, com cerca de 20 pessoas cada. “Começamos em março, abril e pa- ramos em outubro, dependendo de cada ano, do mar que está e do peixe que vai havendo.”
História e cultura à parte, o dia a dia é uma batalha dura para ga- nhar o pão quotidiano, que tem de chegar à mesa todos os dias. “Quando não podemos pescar com a Arte-Xávega, usamos as redes de tresmalho, ou a rede de um pano.”
Quanto à relação com os banhis- tas, não há problemas a registar. Nas zonas concessionadas só pes- cam depois das 18:30 e é um espe- táculo que muitos gostam de ver, especialmente com a nuvem de gaivotas que sempre acompanha a faina. “Antigamente, havia ba- nhistas que vinham no verão para ajudar e ficavam por aí”.
Quanto ao elegante barco tradi- cional, o ícone das nossas praias, o “Meia-Lua”, está condenado: “é difícil adaptá-lo ao motor. É muito estreito atrás. Em Vieira de Leiria, Mira e Espinho ainda usam porque os barcos deles são muito grandes e mais largos cá atrás, aguentam muito melhor o motor”.
Mário, quando olha para o mar, vê peixe. A maneira como o mar se apresenta é interpretada segundo opeixequeháounãohá,easfor-
A Xávega, uma técnica de pesca milenar, é uma herança cultural
Somando à dificuldade da pesca, do mar e das agruras do clima, acresce “o maior problema é o das
A pesca mudou muito. De pu-
Mário não é filho de pescadores, masoseufilhojáépescadoreo seu neto, prestes a nascer, será também? “Eu não dava esse con- selho”, confessa. |
vendas. Agora estamos a vender a cavala muito bem. Muito barata, mas vende-se oito toneladas. Mas se eles deixarem de a comprar...”. “Eles” são os espanhóis, que com- pram a cavala por atacado para ali- mentar os seus intensos viveiros de atum. O sushi, e não só, de- pende deles e, claro, das nossas praias também.
xada à mão, com a força de muitas pessoas a remar e alar as redes, para agora, com motores nos bar- cos e tratores a puxar.
CAMPISTAS NÃO VÃO PODER DORMIR (DESCANSADOS) NA PRAIA
Incendiada pela infeliz vítima no incên- dio de um parque de campismo, a polé- mica reacendeu-se sobre as condições existentes e as suas localizações. Cinco al- véolos arderam na sua totalidade e três parcialmente. O dispositivo de socorro contou com 16 veículos e 37 operacionais para resolver o incidente em 30 minutos.
já iniciámos. Relativamente a questões de segurança, elas são prioritárias e as re- gras têm que ser cumpridas. A Câmara está pronta a ajudar em tudo o que for ne- cessário para a implantação das transfor- mações que sejam necessárias, mas as regras de segurança são para cumprir ri- gorosamente”.
Campismo ou segunda habitação?
mais barata de alojamento, mas ainda assim cómoda – e próxima da natureza.
A notícia, proveniente de uma confe- rência de imprensa dada às televisões no local com Francisca Parreira, vereadora da Câmara Municipal de Almada, acompa- nhada por José Ricardo Martins, presi- dente da Junta de Freguesia da Costa da Caparica, assumiram três coisas funda- mentais e, parafraseando Francisca Par- reira, “com clareza e frontalidade.”
Há muito que são comentadas infra- ções, especialmente nas distâncias entre equipamentos e na largura dos acessos, mas foi a vereadora quem confirmou ter- se realizado uma inspeção, que incluiu a Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil, que detetou irregularida- des, tendo já notificado os parques.
Na Costa da Caparica existem presen- temente sete parques de campismo: qua- tro a norte: INATEL, CCL, GNR, PNEC (Escotismo) e três a sul, CCC Almada, CCLisboa e Piedense, da SFUAP. E não é preciso recuar mais de 50 anos para ver a explosão do campismo por todo o lado, na praia, nas matas, à beira da estrada... apesar dos parques já existentes.
As implicações são profundas. Os par- ques têm raízes na perceção do cam- pismo como um desporto, uma atividade saudável, que leva o Estado a ceder ter- renos para a sua prática, numa época em que o campismo e a própria praia eram pouco procurados.
A primeira é que há parques que não cumprem as regras de segurança. A se- gunda é que caso esta situação não seja corrigida, serão encerrados. A terceira é que existe neste executivo a intenção de transferir os parques para outro local e que já o tinham informado às direções dos parques.
Relativamente à transferência dos par- ques, a sua obrigatoriadade é ditada pela aprovação do Plano de Ordenamento da Orla Costeira, que dita a necessidade de recuar pessoas e bens da linha do litoral. No entanto, em 2018, a resistência do INA- TEL e do Clube de Campismo de Lisboa contra o processo de desocupação dos parques, aprovados desde 2010 pela Cos- taPolis, ainda se arrastava em tribunal,.
A verdade é que os campistas estão nas primeiras linhas dos amantes da natureza e, naturalmente, da praia. Frequentam as nossas praias desde o alvor daquela prá- tica em Portugal e não admira a sua pre- sença tão clara nas nossas praias. Já há muito tempo que, além do campista da natureza, multiplicou-se o campista de conveniência, explorando uma forma
Por outro lado, era pública a preocupa- ção dos executivos anteriores ao direito de acesso à praia pela população econo- micamente menos favorecida.
“É um processo longo, de diálogo, que
O CostaPolis, cortou a direito e pla- neou a remoção de quatro parques asso- ciativos para uma única zona junto à Aroeira, o Pinhal do Inglês. Acabou tudo em tribunal e acabou com o CostaPolis, que contava com o capital de vendas e concessões para financiar o resto das obras. |
O campismo é uma presença constante em todas as praias nacionais, mas quan- do está próximo de zonas urbanas é fre- quente ser segunda habitação. Mesmo quando não são no litoral.
Esse crescimento leva alguns especia- listas a considerar que a grande maioria dos parques aqui existentes não são de campismo, mas de segunda habitação.

