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Dez narvais – primos distantes da beluga – vieram à tona e apontaram para os céus suas
enormes presas. O bando de baleias de 1,5 tonelada desceu às profundezas do oceano novamente.
Narvais são mergulhadores de águas profundas – mais de mil metros, em alguns casos –, então Josh
tinha pelo menos uns 20 minutos até que reaparecessem.
Parecia-lhe apropriado que estivesse com os narvais. O nome desse animal vinha do norueguês
antigo e se referia à pele branca e cinzenta marmorizada.
Náhvalr – cadáver.
Ele sorriu, como frequentemente fazia nos últimos anos. Josh tinha sido um cadáver ambulante.
Um ano depois de se formar na faculdade, Josh descobriu que tinha carcinoma oral escamoso –
câncer. Tinha planos de ser consultor de gerenciamento. Tinha planos de ser várias coisas. De
repente, nenhum deles importava mais. Menos da metade dos que sofriam desse tipo de câncer
sobrevivia. A morte não discriminava e vinha sem aviso.
[7]
Ficou claro que o maior risco na vida não é cometer erros, mas arrepender-se: perder
oportunidades. Ele nunca poderia voltar atrás e recapturar anos gastos fazendo coisas de que não
gostava.
Dois anos depois, livre do câncer, Josh partiu para uma viagem ao redor do mundo, indefinida,
cobrindo os gastos como escritor freelancer. Depois, tornou-se co-fundador de um site que fornece
itinerários personalizados para pretendentes a “nômades”. Seu status de executivo não diminuiu seu
vício pela mobilidade. Ficava tão confortável para lidar com seus negócios nas palafitas em Bora-
Bora quanto em chalés nos Alpes suíços.
Certa vez, ele recebeu um telefonema de um cliente quando estava no Acampamento Muir, no
monte Rainier. O cliente precisava confirmar alguns números de vendas e perguntou a Josh sobre o
barulho de vento ao fundo. Josh respondeu: “Estou a mais de 3 mil metros de altitude, em uma
geleira, e nessa tarde o vento está nos empurrando montanha abaixo”. O cliente disse que iria deixar
Josh voltar ao que estava fazendo.
Outro cliente ligou para Josh no momento em que ele deixava um templo em Bali e ouviu os
gongos ao fundo. O cliente perguntou a Josh se ele estava na igreja. Incerto do que responder, a
única coisa que saiu foi: “Sim?”.
De volta aos narvais, Josh tinha alguns minutos antes de voltar para o acampamento, de modo a
evitar ursos polares. Vinte e quatro horas de luz do sol por dia significavam que ele tinha muito que
contar a seus amigos quando voltasse à terra dos cubículos. Sentou-se novamente no gelo e tirou de
uma bolsa à prova d’água seu telefone via satélite e seu laptop. Começou a escrever um e-mail como
sempre começava.
“Sei que vocês estão cansados de me ver me divertindo tanto, mas adivinhem onde eu estou?”
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