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Como escapar dessa prisão  que eu mesmo construí?”.  Uma

                viagem, decidi. Um ano sabático ao redor do mundo.

                     Então eu viajei, certo? Bem, vou chegar lá. Em primeiro

                lugar,  achei  prudente  enrolar  minha  vergonha,  meu

                embaraço e minha  raiva por seis  meses,  enquanto  desfiava

                um  enorme  rosário  de  razões  pelas  quais  minha  viagem

                fantástica  de  libertação  nunca  daria  certo.  Um  dos  meus

                períodos mais produtivos, com certeza.

                     Eis que um dia, no meu exercício de ficar profetizando o

                quão terrível seria meu futuro de sofrimentos, tive uma ideia
                brilhante.  Era  certamente  um  aprofundamento  da  minha

                fase  “não  relaxe,  preocupe-se”:  por  que  não  definir

                exatamente  o  que  seria  o  meu  pesadelo  –  a  pior  coisa  que

                poderia acontecer como resultado da minha viagem?

                     Bem,  minha  empresa  poderia  ir  à  falência  enquanto  eu

                estivesse  longe,  com  certeza.  Provavelmente  iria.  Um  aviso

                do governo acidentalmente não chegaria às minhas mãos e

                eu  seria  processado.  Minha  empresa  seria  fechada  e  o

                inventário iria consumir todo o estoque enquanto eu estaria
                solitário  e  triste  em  alguma  praia  gelada  da  Irlanda.


                Chorando  na  chuva,  imagino.  Minha  conta  bancária  iria
                despencar  pelo  menos  uns  80%  e  certamente  meu  carro  e

                minha  moto,  na  garagem,  seriam  roubados.  Suponho  que

                alguém cuspiria em minha cabeça de uma sacada enquanto

                eu  estivesse  alimentando  cães  sarnentos  com  restos  de

                comida. Os cães talvez ficassem assustados e me mordessem

                na cara. Deus, a vida é uma vagabunda cruel e difícil.
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