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ritório estadunidense. Temos em Parnamirim
o Centro Cultural Trampolim da Vitoria com
mais de 1000 objetos e/ou documentos que
registram minunciosamente este período da
nossa história. A partir deste relacionamento
com os combatentes norte-americanos, a re-
gião introduziu até mesmo no seu cardápio o
hambúrguer, hot-dog e milk-shake.
O fim das hostilidades na II Grande
Guerra foi marcado pela cisão e por de-
sencontros. Os aliados não se aliaram para
o fim das hostilidades. Cada país envolvido
tentava marcar as assinaturas num lugar e
numa data. Os alemães queriam se render
aos norte-americanos e a Rússia queria as-
sumir papel de liderança para o fim dos ata- Juan responde: “Vá, vá, eu te dou em nome do amor da
ques e receber os exércitos derrotados para humanidade.” A resposta da caridade ordinária é feita
mostrar em desfile a face dos vencidos. Na em nome do amor por si mesmo do personagem, quer
Rússia este desfile e a data comemorativa foi dizer benefício do doador. Ou seja, o dom excluindo o
fixado para 09/05/1945. contra-dom, abole o destinatário como sujeito, redu-
Em carta dirigida a Albert Einstein, zindo a humanidade à posição de um gigantesco for-
Freud levanta a seguinte questão: Por que migueiro indiferenciado, onde não se coloca a questão
nos revoltamos tanto contra a guerra, o se- da escolha e da liberdade. Ele matou o outro na sua
nhor, eu, e tantos outros, por que não a acei- dimensão de sujeito.
tamos como uma entre tantas necessidades Retomando a questão que questiona o porquê
penosas da vida? “Ela parece, porém tão da guerra, refletimos que são três as paixões do su-
conforme a natureza biologicamente bem jeito: indiferença, ódio e amor. Na origem do sujeito
fundada, praticamente inevitável”. Esten- encontramos uma vontade de manter uma relação de
dendo a questão: podemos conceber uma indiferença em face do mundo. O desejo de destruir
civilização mundial? Uma comunidade que – função do ódio – substitui a tendência paradoxal de
se confundiria com a humanidade, onde po- se manter num estado de indiferenciação. Não é um
deríamos realizar a máxima cristã; amar o querer morrer, mas um estado de “como morto”. O
próximo como a nós mesmo? desejo de morrer nada mais é do que, na realidade,
A falta do estrangeiro-odiado, localizado o desejo de que não aconteça mais nada de voltar ao
logicamente no exterior, só pode ter como estado de inanimado. De sucumbir ao sono dos jus-
consequência o retorno do ódio para o in- tos. O desejo de viver segue o de indiferença, porque
terior da comunidade. É o que ilustra na não há vida sem morte, não há morte sem vida. É o
cultura contemporânea a figura do “excluí- princípio que a civilização toma para si para regulá-lo.
do”: o estrangeiro-entre-nós, que inaugura Daí a compreensão que a indiferença é o verdadeiro
um novo processo: a necessidade de excluir sentimento que se opõe ao amor e não o ódio. Tanto o
o excluído. Mas, para onde? Posto que não amor quanto o ódio provocam uma movimentação em
há outro espaço. direção ao outro. Amor e ódio provocam movimentos
Existe uma passagem em Dom Juan – Mo- de aproximação, indiferença é imobilização ou imobi-
lière, já muito debatida, que ilustra sobrema- lidade. Ou seja, o período de guerra significa o máximo
neira esta questão: Signarelli e Dom Juan, de movimentação destrutiva, é o campo do ódio, por
cavalgando numa floresta deserta, encon- excelência, onde todos combatentes são chamados a
tram um pobre que pede caridade. Após ter matar e destruir tudo que for possível, na maior par-
proposto ao pobre infeliz oferecer-lhe uma te das vezes usando armas semelhantes. Ao final, nos
moeda de ouro à condição que este consin- deparamos com o vencedor e com o vencido, quando
ta, jurando, uma blasfêmia, obtém em troca então concluímos que o vencedor é o justo e o vencido
uma recusa indignada do pobre: “Não, se- o injusto, conclusão capaz de aplacar culpas generali-
nhor, prefiro morrer de fome” ao que Dom zadas, mas totalmente distantes da verdade que moti-
vou todo o embate destrutivo.
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