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124         Sandra  Benato        |        El  Azufre  Rojo  VIII  (2020),  102-124.        |        ISSN:  2341-1368





               inerente. A seguir mencionou a mulher e o perfume, e completou dizendo que na oração
               encontrou consolo” .
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               O “grau acima” que caracteriza al-insān al-kāmil necessita da transitividade da Identidade
               entre os correlatos, transitividade essa que se expressa como amor e vida, do contrário temos
               dois absolutos justapostos que se excluem mutuamente. O ponto central na doutrina de Ibn
               ‘Arabī, marcada aparente e exatamente pela ambivalência huwa/la-huwa, ele-não-ele, é o
               terceiro incluso: o movimento de traduzibilidade entre estes, que os unif ca sem descaracter-
               izá-los, o amor em potencial.

               E este estado de traduzibilidade faz do capítulo de Muhammad, no Fuṣūṣ, uma alternância
               da condição humana onde masculino e feminino oscilam entre interior e exterior, superior
               e inferior, como o Alento do Todo Misericordioso, inspiração e expiração, que se traduz na
               metáfora do perfume: o masculino encontra sua plenitude no feminino e o feminino encon-
               tra sua plenitude no masculino não por uma questão imediata de gênero, mas pela conf uên-
               cia do desvelamento divino, ainda que o gênero seja um sinal indicando esta Presença. Em
               outras palavras, masculino e feminino não são conceituados a partir de si mesmos, pois em
               si, como absolutos, não existem. Nem tão pouco existem no confronto dialético dos opostos,
               mutuamente excludentes, onde nem se reduzem um ao outro nem se amorf zam num an-
               drógino. Masculino e feminino convergem um ao outro, ocorrem enquanto f uxo de vida e
               identidade, assim como os nomes da Majestade necessariamente conf uem para os da Beleza
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               e vice-versa. A conf uência é necessariamente gozo  e como tal, os opostos não são contrá-
               rios, nem se complementam, nem se fundem: se incluem, se traduzem.



























               43 Fuṣūs al-ḥikam ( The Bezels of  Wisdom), trad. Austin, p. 272.
               44 Veja-se The Suf  Path of  Knowledge, p. 212: “Wuǧūd signif ca encontrar (wiǧdan) o Real em êxtase (waǧd)” - Fu-
               tūḥāt, II,538.1
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