Page 51 - Revista FRONTAL - Edição 50
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ALÉM FRONTEIRAS


















































                                             Imagem 2 - Campo de Refugiados de Yida, Sudão do Sul, Abril 2013.
                                                       © Yann Libessart/MSF
        pretendem tomar Idlib. Nesta zona, os profis-  não conseguem dormir. Para além disto, há   Nalguns locais do campo de refugiados
        sionais de saúde têm-se tornado alvo de vio-  um número crescente de crianças malnutri-  de Moria (uma ilha grega), existe apenas uma
        lência, como é denunciado pelo International   das, e cerca de 6,5 milhões de sírios não têm   torneira para cada 1300 pessoas e não há sa-
        Rescue Commitee (IRC): a 25 de fevereiro   o suficiente para comer.     bão disponível. Famílias de cinco ou seis ele-
        do presente ano, ataques aéreos atingiram   Se a estas tragédias adicionarmos a pan-  mentos dormem em locais que não têm mais
        um hospital em Idlib, lesando quatro profis-  demia de COVID-19 que invariavelmente atin-  de 3 m2. Nestas condições, como é possível
        sionais de saúde; também várias ambulâncias   girá estas zonas, conseguimos perceber que   cumprir as medidas básicas de prevenção da
        têm sido alvos de ataques. No total, 84 cen-  se avizinha um grande problema de saúde pú-  COVID-19? Como praticar o isolamento so-
        tros de saúde operados pelo IRC e por outras   blica: porquanto que o novo coronavírus é   cial num campo sobrelotado? Como lavar as
        agências humanitárias tiveram de suspender   uma ameaça séria onde existem sistemas   mãos, se não há água nem sabão? Como ficar
        as suas operações devido às ofensivas.   de saúde, a sua dimensão é ainda maior   em casa, se casa significa guerra?
           Um questionário recente do IRC, aplica-  em zonas onde estes são inexistentes.   O descongestionamento destes cam-
        do em março de 2020 em Idlib, demonstrou   Em países como a Síria, Iémen, Afeganis-  pos de refugiados é urgente e a solida-
        que a saúde mental das crianças está a ser   tão, Iraque, ou mesmo nos campos de refugia-  riedade indispensável. Que saibamos, pois,
        particularmente afetada como resultado dire-  dos nas ilhas gregas, os sistemas de saúde   ficar em casa nestes tempos tão incertos, mas
        to das hostilidades recentes no noroeste da   encontram-se enfraquecidos por longos anos   deixando sempre a porta aberta para quem
        Síria: muitas crianças choram frequentemen-  de conflitos, e a população muito vulnerável   realmente precisa de nós.
        te devido ao trauma experienciado, ou por   à doença, devido aos impactos da guerra, à
        medo do som de aviões, e têm pesadelos ou   fome e às fracas condições de higiene.






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