Page 38 - Edicao 5217 # 16-03-2018
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                                        Problema compromete a qualidade
                PSICÓLOGA CLÍNICA
                SARA MALHOA

                                        de vida dos idosos e dos cuidadores
                A Criança Hospitalizada

         A experiência de hospitalização é fon-
         te de stress e ansiedade para a maioria                                                                                                           DR
         das crianças, podendo mesmo contri-  Um em cada três idosos sofre uma queda,
         buir para um risco acrescido de pertur-  a principal causa de morte acidental nos
         bações de comportamento e de psico-  seniores
         patologia a médio e longo prazo. No   São o acidente doméstico mais frequente
         entanto, é possível reduzir os efeitos ne-  nos idosos e a principal causa de morte aci-
         gativos dessa experiência, potenciando   dental na população dos maiores de 65 anos.
         os seus aspetos mais enriquecedores.   Falamos das quedas. “As quedas ocorrem
         A hospitalização é mais perturbado-  em 35 a 40% das pessoas com 65 anos e em
         ra durante a primeira infância e perío-  mais de 50% da população com mais de 80.
         do pré-escolar, nomeadamente entre os   E a maior parte ocorre nos domicílios”, con-
         6 meses e os 4 anos, período em que a   firma Lia Marques, Assistente Hospitalar de
         separação dos pais é mais perturbadora   Medicina Interna do Hospital Beatriz Ângelo,
         e os tratamentos são percecionados   que alerta para as complicações graves que
         como mais assustadores.        delas podem resultar, como a perda de au-
         As crianças mais crescidas estão prote-  tonomia e a imobilidade. “Sabemos que 5
         gidas pois tem mais facilidade em man-  a 25% das quedas na população idosa se
         ter relações estáveis apesar da separa-  complicam com lesões graves, como fratu-
         ção mas também para compreender a   ras ou traumatismo craniano; 50% da que-
         necessidade dos tratamentos.   das nos idosos condicionam internamento
         A ansiedade e o sofrimento associados   hospitalar e, destes internamentos, 40% ter-
         ao internamento hospitalar dependem   minam na institucionalização do idoso por
         da doença em causa e dos tratamentos   perda de autonomia.
         necessários. É fundamental conjugar   Acarretam, por isso, importante compromis-
         esforços e combinar intervenções mé-  so da qualidade de vida, “não apenas dos
         dicas e psicológicas para aliviar a dor e   idosos que as sofrem, mas também de fa-  vés da utilização de dispositivos de comuni-  dias ainda pouco se investe na medicina pre-  a andar, de ser independente ou de poder
         a tensão inerentes. As metodologias de   miliares e cuidadores, já que muitas vezes   cação que ao detectar a queda ativam um   ventiva, quando comparada com a medicina   brincar com os filhos/netos.”
         distração, autocontrolo, resistência ao   são o factor precipitante da transição entre   sistema de emergência em que é feito um   de intervenção. Tem que haver maior enfo-  A inovação e tecnologia em geriatria e como
         stress, relaxamento são muito eficazes.   um idoso activo e autónomo para um idoso   contacto para a pessoa mais próxima do ido-  que nos cuidados de saúde primários, que é   estas podem contribuir para a manutenção
         Independentemente das condições da   totalmente dependente”.  so para que seja imediatamente auxiliado,   onde a prevenção se inicia.” A este aspeto   da funcionalidade física e cognitiva e con-
         hospitalização, é necessário que o psi-  Apesar de a sua incidência aumentar com a   quer através de programas mais complexos   junta outro: “a educação da população. A   sequente melhoria da qualidade de vida e
         cólogo desenvolva uma intervenção in-  idade, os especialistas sabem que as quedas   que permitem não apenas identificar o risco   população tem que ser instruída, de forma   bem-estar dos mais idosos também é deter-
         dividualizada, focada em cada criança e   se devem a fatores de risco que estão bem   de queda, como estabelecer programas de   assertiva, sobre quais os riscos cardiovas-  minante actualmente. Sofia Duque, especia-
         na sua família. A preparação para a hos-  definidos, “muitos dos quais corrigíveis, o   treino de equilíbrio quer no domicílio, quer   culares e como lidar com eles. Tem que se   lista em Medicina Interna do Hospital São
         pitalização é muito importante para evi-  que faz com que as quedas na população   em instituições.”  desenvolver o culto do exercício físico e a   Francisco de Xavier, acrescenta ainda que
         tar manifestações de ansiedade durante   idosa tenham um grande potencial de pre-  A prevenção cardiovascular no idoso tam-  instituição de uma dieta mediterrânica equi-  “as inovações tecnológicas podem ser úteis
         e após o internamento. Assim, é funda-  venção”, confirma a especialista. Uma pre-  bém é importante, e de acordo com Eduardo   librada. Os medicamentos também têm tido   na prevenção da doença e da deterioração
         mental evitar o internamento hospital   venção que passa “pelo reconhecimento do   Haghighi, Coordenador da Unidade de   um papel preponderante, pois estes também   funcional, contribuindo para o envelheci-
         sempre que possível, reduzir o interna-  risco de queda enquanto grande e impor-  Geriatria do Hospital Vila Franca de Xira,   contribuem para a prevenção de doenças   mento ativo e saudável”. Recentemente foi
         mento ao mínimo e levar os brinquedos   tante Síndrome Geriátrica”. De acordo com   “passa pelo rastreio e tentativa de modi-  cardiovasculares”.  reconhecida a Gerontecnologia  que reúne
         que a criança mais gosta, de forma a ali-  a especialista, “devem ser implementados   ficação dos fatores de risco cardiovascular   Ainda que os riscos cardiovasculares sejam,   todas as inovações tecnológicas desenvol-
         viar a tensão e tornar esta fase menos   instrumentos de rastreio para identificação   tais como a dislipidémia, a obesidade, o se-  para esta população, os mesmos que para   vidas no campo da geriatria, quer para ras-
         desconfortável.                do risco de queda e avaliação complemen-  dentarismo, a hipertensão arterial, a diabetes   as outras, “são é todos mais prevalentes -   treio, diagnóstico, prevenção, assistência,
                                        tar para controlo de cada um dos factores   mellitus ou o tabagismo”. É preciso, confir-  muitos vão-se desenvolvendo ao longo do   reabilitação, previsão de acidentes, adesão
         Façam-nos  chegar  as  questões  que   de risco individuais para queda. Factores de   ma, estratégias diferentes, o que depende   tempo e começam a manifestar-se de forma   à terapêutica, etc.
         mais vos preocupam, através da nossa   risco extrínsecos para queda como trajetos   da avaliação física, cognitiva, funcional, nu-  mais expressiva em idades mais avançadas   Sofia Duque destaca ainda que a teleme-
         página de Facebook Gazeta da Saúde   mal iluminados ou a presença de obstácu-  tricional, psicológica ou social do idoso. “O   - e a probabilidade de ocorrerem vários em   dicina pode possibilitar novos modelos de
         & Bem-Estar, por email saúde@gazeta-  los no percurso dos doentes podem ser fa-  idoso autónomo, robusto e vivendo com a   simultâneo é maior no idoso”. É por isso que   cuidados, aproximando os doentes dos
         caldas.com ou entregando pessoalmen-  cilmente corrigidos”.  família não terá um mesmo plano de atua-  a prevenção deve ser precoce, assim como   profissionais e dos serviços de saúde à
         te na redação.                 Nesta situação, as novas tecnologias podem   ção que um idoso dependente, desnutrido e   a educação do idoso e dos seus cuidadores.   distância de um click, aumentando a aces-
         As  mais  pertinentes  serão  publicadas   dar uma preciosa ajuda. Há anos que têm   institucionalizado.” É por isso que a Medicina   “Quando se explica que o “não controle”   sibilidade aos serviços de saúde. “Esta é
         todas as semanas.              vindo a ser aplicadas junto dos doentes em   Geriátrica é “uma Medicina personalizada e   destes fatores de risco pode terminar num   uma ferramenta particularmente útil para
         Participe! Ajude-nos a levar a saúde e o   risco de queda, “quer através de sensores   adaptada à realidade de cada idoso”.  Acidente Vascular Cerebral (AVC), a sensi-  pessoas com problemas de mobilidade ou
         bem estar até si.              que permitem detectar precocemente a que-  Uma prevenção que deveria começar cedo.   bilização torna-se mais expressiva. O AVC   que vivem em ambientes de acessibilida-
                                        da num doente que reside sozinho, que atra-  Mas não começa. “Infelizmente, nos nossos   pode implicar a impossibilidade de voltar   de limitada”.
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