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Animações e Séries Animações e Séries
SÉRIES QUE NÃO PODE PERDER TRÊS POR CENTO - 2016
3% é uma produção brasileira sobre um futuro distópico onde a maior
Distopias não são novidades no universo da cultura pop. Centenas parte do mundo vive em uma absoluta pobreza. Todos os anos, as pessoas
de obras que possuem essa premissa como base já foram criadas, com 20 anos de idade podem se inscrever para ir para o Maralto, um lugar
mas no Brasil isso ainda é algo novo iluminado para humanidade e exclusivo para alguns privilegiados. Apenas
Texto: Omelete 3% dos candidatos passam para o lado de lá, em média por isso o título.
Existe também um grupo revolucionário no Continente chamado “A Causa”,
REALITY Z - 2020 que passaram anos tentando infiltrar alguns espiões no Maralto.
A série destaca alguns candidatos do Processo. Tem a Michele (Bianca
Comparato), uma jovem mulher que luta por igualdade; Fernando (Michel
Adaptação de Dead Set, minissérie de 2008 pelo britânico Charlie Brooker Gomes), jovem que passou a vida toda numa cadeira de rodas e é filho
(Black Mirror), a trama acompanha um apocalipse zumbi no Rio de de um pastor; Rafael (Rodolfo Valente), que é um cara meio babaca… Mas
Janeiro. Quando os mortos se levantam e tomam as ruas, o único lugar tem suas razões; Marco (Rafael Lozano), pertencente a última geração de
seguro na cidade é a casa do Olimpo, um reality show de confinamento uma família que costuma ter sucesso no Processo; e Joana, uma órfã que
onde seus participantes não fazem ideia do que acontece do lado de fora. usa o Processo para escapar do seu passado, na melhor atuação da série,
Os primeiros cinco capítulos refazem Dead Set, e mostram um alto nível de interpretada por Vanessa Oliveira.
qualidade. Comandada por Cláudio Torres (O Homem do Futuro), é visível
que a produção entende de cinema de gênero, e quis prestar homenagem O maior tema em 3% é o conflito entre mérito e genética, afirmando que as
ao zumbi dos anos 2000. pessoas deveriam ganhar seu espaço em vez de nascer incluso nele. É um
conceito incrível de Ayn Rand que extrai assuntos sobre escolhas, sacrifício
Pelo viés de “horror-ação dos anos 2000”, a série entretém com boa paródia e renascimento. Os personagens de 3% estão sistematicamente quebrados
e personagens que representam diversos clichês da cultura televisiva e para que sejam remodelados em uma nova imagem, para mereceram seus
sociedade brasileira. É o tipo de “sacadinha” que funciona bem quando lugares num “mundo melhor”. Nem todos os nossos heróis sobrevivem a
parte de algo maior, mesmo que a busca por sobrevivência em meio ao esse processo, e aqueles que conseguem acabam rejeitando seus valores
apocalipse, fórmula testada e consagrada do gênero. mais fortes para chegar lá.
A trama deixa de ser sobre o apocalipse, e se torna sobre a “nova sociedade”
que os sobreviventes pretendem construir. O deputado, medroso e se ONISCIENTE - 2020
escondendo sob proteção policial, passa a se tornar mais e mais tirano ao
ganhar o poder do público. Os demais sofrem com o medo e a incerteza por De cara, a série começa mostrando do que se trata a onisciência do título.
conta dos delírios do político. Aqui, os mortos-vivos são apenas detalhes Não estamos falando de um deus ou de religião, mas, sim de tecnologia.
de uma retratação da sociedade moderna. Um sistema de segurança implantado na cidade onde se passa a ação
chamado onisciente disponibiliza um drone para cada pessoa. Ali, ficam
O horror sempre serviu como espelho aos males do mundo real mas, registradas todas as ações envolvendo os cidadãos, sem falhas, como
para conquistar pelo comentário político, é preciso ir além. Ao invés de gostam de alardear os criadores. O resultado disso é que, em cinco anos,
aprofundar seu universo ou elenco, a série se contenta em nadar no raso foram registrados 4 homicídios na cidade e os assassinos foram presos em
com metáfora óbvias e tiradas batidas, como uma seleção para se juntar todos os casos. “É privacidade com segurança e não versus”, defendem os
aos grupo feita com base nas aparências, filtrando as “pessoas de bem”. que acreditam no sistema.
Reality Z tem saldo positivo quando é uma produção de gênero, de alto Uma das defensoras do sistema é a protagonista Nina (Carla Salle), que está
nível de qualidade técnica. É justamente o momento em que rejeita essa prestes a passar por um processo seletivo para ser efetivada na empresa
identidade, e tenta emplacar reflexões baratas, que deixa um gosto amargo que desenvolveu o sistema, sonho alimentado desde a infância, já que o
na boca. pai dela, Inácio (Marco Antônio Pâmio), é um dos implantadores das ações
na cidade e agora está aposentado.
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